Retirada ocorre em momento tenso na política afegã: dois candidatos à Presidência se declararam vencedores nas eleições do país.
As tropas dos Estados Unidos começaram nesta Terça-feira (200310) a deixar duas bases militares do Afeganistão. A retirada ocorre no momento em que devem começar as negociações de paz entre o governo afegão e o grupo extremista islâmico Talibã, com a violência e a crise política no país como pano de fundo.
Segundo o acordo assinado no mês passado em Doha todas as forças estrangeiras devem abandonar o Afeganistão em um período de 14 meses, desde que o Talibã cumpram seus compromissos na área de segurança.
O texto pode colocar um fim à guerra mais longa já enfrentada pelos EUA.
O texto pode colocar um fim à guerra mais longa já enfrentada pelos EUA.
O acordo estipula que o governo dos Estados Unidos tem que reduzir inicialmente o contingente no Afeganistão de 12 mil para 8,6 mil até meados de Julho. Além disso, os norte-americanos devem fechar cinco das 20 bases que têm no país.
Os militares começaram a abandonar uma base em Lashkar Gah, capital da província de Helmand - Sul, e outra em Herat - Leste, informou à AFP uma fonte norte-americana que pediu anonimato.
EUA ainda observam violência
Apesar das saídas, as forças americanas mantêm "todos os recursos militares e a autoridade para cumprir seus objetivos", afirmou na Segunda-feira o coronel Sonny Leggett, porta-voz do contingente americano.
Helmand, que ao lado da província vizinha de Kandahar é considerada um reduto dos talibãs, foi cenário dos confrontos mais violentos da guerra que começou há 18 anos.
Omar Zwak, porta-voz do governador de Helmand, disse à AFP que entre 20 e 30 estrangeiros deixaram Lashkar Gah desde o fim de semana.
Crise no Afeganistão
Após o acordo, os talibãs, que afirmam ter conquistado uma "vitória" contra os Estados Unidos, continuam executando ataques de baixa intensidade contra as forças afegãs. Até o momento, as forças americanas responderam a apenas alguns deles.
Segundo os termos do acordo de retirada das tropas estrangeiras, o Talibã deve impedir as ações dos jihadistas e de grupos como o Estado Islâmico ou a Al-Qaeda, além de iniciar negociações com o governo afegão.
Porém, o governo do Afeganistão enfrenta uma situação caótica e parece incapaz de apresentar uma frente unida nas negociações com o Talibã.
Tanto o chefe de Estado oficialmente reeleito, Ashraf Ghani, como o opositor Abdullah Abdullah, que alegou fraudes nas eleições, se declararam presidentes, em cerimônias paralelas, o que levou o país a uma crise institucional.
Washington-EUA expressou na Segunda-feira sua firme oposição à formação de um "governo paralelo" no Afeganistão.
"Nos opomos firmemente a qualquer ação para estabelecer um governo paralelo e qualquer uso da força para resolver as divergências políticas"
Afirmou o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo.
Tudo isto acontece no momento em que deveria começar o diálogo dentro do Afeganistão, com talibãs, autoridades do governo, da oposição e da sociedade civil, para tentar encontrar uma área de consenso sobre o futuro do país. A divisão dentro do Executivo enfraquecerá o governo afegão e reforçará as posições insurgentes, afirmam os analistas.
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