Vyviane Moraes diz que, depois da queda, o equipamento bateu no assoalho do prédio. O teto se rompeu e, por pouco, não lhe acertou.
Na última Terça-feira (170926), Vyviane Moraes se preparava para levar os dois filhos, Mateus de 5 anos e Marcos de apenas 2 anos para a aula de natação.
O dia corria normal mas um susto quase tira a família do prumo. Ao entrar no elevador do prédio onde mora, na 304 Norte, sentiu um solavanco.
“O elevador despencou alguns andares, depois subiu de uma vez só”
Se recorda.
Na segunda pancada, dessa vez na cobertura, o teto da máquina desabou – por pouco não sobre a sua cabeça e a das crianças.
Quando a porta se abriu, a professora percebeu que, do primeiro andar, onde mora, tinha ido parar no sexto. Por causa de uma lesão no tornozelo deixada por um grave acidente de carro há seis anos, não costuma usar as escadas.
Num súbito, desceu os seis lances com as duas crianças nos braços.
Acidentes de elevador não são tão raros assim. No prédio onde a professora mora mesmo, foi a segunda vítima em um espaço de poucos dias. Na semana anterior, um vizinho, idoso, havia sofrido experiência parecida e chegou a ficar com dores como sequela.
“Estava comentando com a minha funcionária que precisava visitá-lo justamente antes de entrarmos no elevador”
Comenta.
Recebeu como resposta que a empresa responsável pelo aparelho já havia feito os reparos necessários e que tudo corria bem. Até se tornar a próxima vítima. Segundo ela, a empresa já foi acionada para efetuar novos reparos e o elevador segue interditado desde o dia do infortúnio.
Os dois filhos não se machucaram – pelo menos não fisicamente. O menor, ainda ensaiando poucas palavras, diz “pá!”, toda vez que entra em um elevador, lembrando do barulho da pancada no elevador no teto.
De herança física, a professora leva ainda dores nas costas e na panturrilha, que talvez lhe custem algumas sessões em um fisioterapeuta. Mas é o impacto psicológico que tem lhe pesado mais.
Filme de terror
Depois do acidente, ela levou os filhos para a natação, para que eles se distraíssem e seguiu seu dia. Foi só quando chegou em casa à noite, segundo ela conta, que o episódio assumiu novo significado.
Há seis anos, em dezembro de 2010, Vyviane perdeu dois filhos em um acidente grave na BR-060, em Abadia de Goiás, quando seguia com as crianças e o marido na época, Marcos, para passar as festividades de fim de ano com a família, em Rio Verde-GO.
No dia 17 de dezembro daquele ano, uma Saveiro em alta velocidade, segundo uma testemunha, fez uma ultrapassagem proibida e acertou em cheio o Fiat Idea da família. O filho mais novo do casal, Pedro Lucas, morreu na hora. João Marcos, então com 7 anos, faleceu dois dias depois no hospital.
A mãe, de cama viu o momento em que os aparelhos do primogênito foram desligados no box ao lado ao que estava.
Marcos ficou três dias em coma. Mateus nasceu pouco mais de um ano depois do acidente. Os dois caçulas moram no mesmo apartamento em que os irmãos viviam antes do acidente, mas nunca os conheceram.
“Acho que fiquei mais abalada porque o barulho da pancada, o impacto forte e eu estar com as crianças ali comigo me lembrou as circunstâncias do acidente”
Considera.
O motorista da Saveiro, Fabrício Camargos Cunha Rodovalho, nunca foi preso ou julgado. Seis meses depois do acidente, em junho de 2011, Marcos e Vyviane, por conta própria, descobriram que sequer havia um inquérito de investigação. Peregrinaram por delegacias de Goiás até se depararem com o vazio da Justiça. A investigação foi instalada pelo Ministério Público anos depois. Fabrício sequer perdeu o direito de dirigir.
Hoje, é o pai das crianças, Marcos Moraes, quem acompanha de perto o andamento, moroso, do processo. Há dois meses, a juíza do caso determinou que o réu fosse a júri popular. Fabrício, no entanto, recorreu da decisão.
A família foi informada que a nova decisão pode levar até seis meses para sair.
Até lá, o acidente terá completado sete anos sem que encontrasse alívio algum na Justiça.