Uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Unaí-MG com a Penitenciária Agostinho de Oliveira Júnior - PAOJ e a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM - Campus Unaí, está resultando numa solução inédita no Brasil para a reutilização do isopor, e tem dado certo.
Ao invés de ser descartado no aterro de lixo da cidade, o isopor entra na composição de bloquetes feitos de areia, cimento e brita, para uso na construção civil. O isopor entra em substituição à areia, com 20%, 40% e 60% de composição do material.
Já testados pela universidade, os bloquetes serão utilizados na construção de calçamentos em ruas, praças e escolas da cidade. Futuramente, com o avanço das pesquisas, o isopor poderá ser utilizado até mesmo na composição de material em pistas de rolagem de veículos.
A iniciativa foi buscada inicialmente como solução para as cerca de 2.000 marmitas de isopor que passam diariamente pela penitenciária. A demanda para uma solução ambientalmente correta para o isopor em Unaí, no entanto, está para além da PAOJ, já que o material é usado em boa escala no comércio da cidade.
A solução sustentável encontrada para o isopor em Unaí começou por um incômodo: a alimentação de presos e servidores do Sistema Penitenciário do Estado de Minas Gerais, que vinha em marmitas de alumínio, passou a ser fornecida em marmitex de isopor.
O alumínio tem valor de venda para a reciclagem, mas o isopor não.
Não há local adequado para descarte e nem a logística reversa para esse tipo de material, o reciclador mais próximo está em Mogi das Cruzes-SP.
Que fazer, então, com o material que começava a se acumular na PAOJ?
"Precisava dar uma destinação útil e ecologicamente correta para esse material, que estava sendo guardado em bags, que compramos só para isso. Adaptamos um triturador de produzir ração para moer esse isopor. Conseguimos reduzir o volume do material e pensamos na possibilidade de utilizar o isopor na construção civil. A gente precisava buscar uma opinião técnica"
Conta o diretor-geral da PAOJ, Sílvio Pereira Cardoso Júnior.
Partiram, então, em demanda da Prefeitura, para dividir o "problema" com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e buscar uma solução conjunta. Encontraram, de pronto, acolhida da secretária Cátia Regina Rocha.
"Estamos em fase de licenciamento do aterro sanitário de Unaí.
Não adianta implantar um aterro sanitário, senão houver coleta seletiva do lixo e reutilização de resíduos sólidos. Um aterro sanitário tem uma expectativa de vida de 20 anos, mas se esse tipo de material, como o isopor e o vidro, que se for jogado lá, reduzirá a vida útil do aterro pela metade. E isso é muito caro para a população"
Explica Cátia.
Pesquisa e Extensão
Prefeitura e penitenciária tinham dado o primeiro passo rumo à parceria. Precisavam, ainda, de uma solução definitiva para a reutilização do isopor e de um parceiro com opinião técnica abalizada. A universidade surgiu como resposta. A professora Hellen Pinto Ferreira Decker aceitou o desafio: o isopor entraria numa pesquisa de extensão universitária da UFVJM.
Participaram de um edital da universidade aberto em Novembro, a pesquisa foi aprovada, e em Dezembro o trabalho foi iniciado. Vários testes foram realizados dentro da universidade e na fábrica de manilhas, meios-fios, blocos e bloquetes, da PAOJ, para se chegar ao resultado ora visto.
A pesquisa que utiliza o isopor na constituição de bloquetes é desenvolvida por um estagiário bolsista e sete acadêmicos dos cursos de engenharia agrícola e ambiental do campus Unaí.
"O isopor já é utilizado na fabricação de blocos e em contrapisos, mas para a fabricação de bloquetes é a primeira vez"
Revela Hellen, depois de consultar a literatura sobre o assunto.
A professora Hellen é referência técnica dentro do Campus Unaí no setor de Estruturas e Reutilização de Materiais. Além do isopor, a professora tem em mira utilizar o vidro, o pneu, o bagaço de cana, a cinza, a casca do arroz como matéria-prima em outras pesquisas para a construção civil.
O trabalho de pesquisa foi facilitado, porque além de fornecer o isopor em abundância, a PAOJ possui a fábrica que produz manilhas, meios-fios, blocos e bloquetes para obras da prefeitura, que funciona em terreno da penitenciária. Dois presos, dos oito que trabalham na fábrica, foram destinados para a moenda de isopor. Uma máquina de vibro-prensa, também da penitenciária, é utilizada no trabalho.
Solução para o estado
A reutilização do isopor na fabricação de bloquetes para a construção civil já está sendo considerada uma solução ecologicamente correta para todo o Estado de Minas Gerais. A opinião é do diretor regional do Noroeste, de Administração Prisional, Paulo Henrique Pereira, responsável pelas duas unidades prisionais de Unaí-MG, de João Pinheiro-MG, de Paracatu-MG e de Buritis-MG.
"Houve interesse dos nossos superiores do Departamento Penitenciário de Minas Gerais em Belo Horizonte-MG e da Secretaria de Estado de Segurança Pública, quando tomaram conhecimento desse trabalho, que pode ser estendido para toda Minas Gerais"
Conta Paulo Henrique.
"Algumas unidades prisionais possuem até 2.400 presos. Então, imagine a quantidade de marmitas sendo jogadas no lixo comum, diariamente"
Ressalta.
A secretária Cátia lembra que Unaí segue inovando na busca de soluções para a destinação de resíduos sólidos, tornando-se referência para o Noroeste de Minas. Acrescenta que Unaí possui ecopontos para recebimento de pneus, de equipamentos eletroeletrônicos inservíveis, pilhas e baterias usadas, além de possuir associações que trabalham com coleta de materiais recicláveis, como alumínio, papel, papelão, plástico, paletes.
A destinação correta para isopor e vidro já entrou no radar municipal, e as soluções começam a aparecer. Para Cátia, não adianta implantar o aterro sanitário na cidade, que é muito dispendioso, se todas essas soluções de descarte adequado, não forem encontradas em tempo.
E, nessa busca, as parcerias são fundamentais.
Com Informações de:
PMU - UNAÍ-MG.