Ave passou 75 anos desconhecida e foi redescoberta em Botumirim, no Norte de Minas; organização não governamental comprou área onde a rolinha foi encontrada.
Por mais de 75 anos, pesquisadores desconheciam as características da Rolinha-do-planalto. O último registro da espécie Columbina cyanopis foi feito na década de 1940.
A ave de olhos azul-turquesa e colorido peculiar foi redescoberta somente em 2015, pelo ornitólogo Rafael Bessa, em Botumirim-MG, no Norte de Minas. A partir daí, uma série de conquistas surgiram para a conservação e estudos da espécie.
Mestrando em Biodiversidade em Unidades de Conservação, pela Escola de Botânica Tropical, no Jardim Botânico (Rio de Janeiro), o biólogo Bruno Rennó reforça a importância do registro e explica que a ave é pouquíssima conhecida, de apenas oito exemplares coletados entre os séculos XIX e XX, em apenas três pontos do país: Mato Grosso, na divisa do Oeste de São Paulo com Mato Grosso do Sul e ao Sul de Goiás.
"A pouca informação de registros históricos fez com quem a rolinha passasse 75 anos praticamente desconhecida.
Ela é, sem dúvida, uma das espécies mais raras e ameaçadas do planeta e foi redescoberta durante um trabalho de levantamento de aves do biólogo carioca Rafael Bessa, em Botumirim. A partir daí, foi possível aprofundarmos em pesquisas sobre os hábitos alimentares e outras características da ave. Dependendo da luminosidade, o colorido dela é muito peculiar"
Explicou Rennó.
A rolinha-do-planalto tem 16 centímetros e possui um colorido predominantemente marrom. Ela se destaca pelos olhos e manchas nas asas também em tons de azul. A ave se alimenta de sementes.
"É um animal tipicamente do cerrado e vive em locais densos, por isso, o 'mistério' em identificá-la, mesmo nos locais onde já ocorre o registro da espécie. Ela passa a maior parte do tempo no chão por se alimentar das sementes"
Completou.
Preservação da espécie
Para a conservação da espécie, uma organização não governamental comprou a área onde a rolinha-do-planalto foi redescoberta no Norte de Minas.
A reserva tem 593 hectares e permanece como propriedade privada da Save Brasil. A ONG é uma representação brasileira da BirdLife International, uma rede internacional de proteção de aves e possui projetos similares com várias espécies ameaçadas.
O investimento potencializa os estudos sobre a espécie e favorece o engajamento da população por meio da educação ambiental e do turismo local.
"Depois da redescoberta da ave, encontramos apenas 12 indivíduos da Rolinha-do-planalto em uma área restrita e sem proteção.
Ficou claro que a solução para conservá-la era a compra da reserva e, por isso, a Rainforest Trust, parceira do projeto, viabilizou o dinheiro em uma campanha internacional de doadores.
Com isso, conseguiríamos proteger a Rolinha-do-planalto, outras espécies também ameaçadas e, consequentemente, a biodiversidade do local"
Explicou o biólogo e coordenador de projetos da Save, Albert Aguiar.
O valor da compra não foi divulgado.
Além da proteção, há, também, uma outra frente de interação com os moradores do entorno por meio de artesanato, já que a rolinha já se torna referência para produções, e promoção do turismo.
Um funcionário, assistente de projeto, foi contratado para ficar em campo e viabilizar a proposta.
“Enquanto conservadoristas, é importante não deixarmos que a espécie seja extinta sem que façamos alguma coisa por ela. Ao final de fevereiro deste ano, um grupo de São Paulo e Minas Gerais, com 22 observadores de aves, passou o final de semana em campo. É o que chamamos de divulgação secundária do projeto"
Completou Aguiar.
Parque Estadual em Botumirim
Criado há 18 anos no Norte de Minas, o Instituto Grande Sertão - IGS é parceiro da Save Brasil no projeto de criação de um Parque Estadual em Botumirim, uma vez que a região proposta para a unidade de conservação coincide com os pontos onde a rolinha foi encontrada.
O processo que já estava em curso junto à Secretaria de Estado de Meio Ambiente ganhou impulso decisivo com a descoberta.
"A chamada avifauna foi um dos aspectos técnicos científicos mais importantes para fundamentar o pedido de criação do Parque junto ao Governo do Estado"
Explica Eduardo Gomes, do IGS.
Em 14 de abril próximo, haverá uma audiência pública em Botumirim-MG para discutir a proposta de criação do Parque.
"Nossa expectativa é para que o decreto final que define a criação do Parque Estadual em Botumirim, com uma área total de 36.299 hectares, seja oficialmente anunciado em julho, na Semana de Meio Ambiente"
Acrescenta Gomes.