Grupo reclama de corte de verbas e pede audiência com ministro. Eixo Monumental foi fechado na altura do MEC, sentido rodoviária.
Servidores, professores e estudantes da Universidade de Brasília-DF - UnB entraram em confronto com a Polícia Militar do Distrito Federal, nesta Terça-feira (180410), durante um ato em frente ao Ministério da Educação.
Até as 14:40 horas, dois alunos tinham sido detidos.
Segundo a PM, eles foram encaminhados à Superintendência da Polícia Federal por terem sido flagrados em atos de vandalismo, pichando e quebrando vidraças.
Até o mesmo horário, não havia informações sobre feridos no local.
No início da tarde, manifestantes foram agredidos, policiais militares usaram spray de pimenta, uma vidraça do MEC foi estilhaçada e as seis faixas do Eixo Monumental, sentido rodoviária, foram fechadas pelos estudantes.
O ato começou pacífico, por volta das 9:00 horas, quando os manifestantes marcharam do Campus Darcy Ribeiro, no Plano Piloto-DF, em direção à Esplanada. O grupo pede o apoio do Ministério da Educação contra a crise financeira enfrentada pela universidade.
O confronto
Nas primeiras horas de manifestação, nenhum incidente foi registrado. Alunos e funcionários da segurança terceirizada da UnB bloquearam o acesso de estudantes aos principais prédios do campus Darcy Ribeiro, o Instituto Central de Ciências - ICC, os pavilhões e os blocos de salas de aula Sul e Norte, por exemplo.
Às 11:40 horas, já em frente ao MEC, houve o primeiro confronto. Conforme o grupo se aproximava da sede ministerial, policiais do Batalhão de Choque da PM usaram spray de pimenta contra os estudantes e agrediram ao menos três deles com cassetetes.
Em resposta, manifestantes arremessaram pedras contra os militares. Por volta das 14:00 horas, um grupo fez uma espécie de "barricada" no meio da pista.
Com os rostos cobertos e gritando palavras de ordem, os manifestantes colocaram fogo em sacos de lixo e conseguem bloquear um dos lados do Eixo Monumental.
O número de policiais militares foi reforçado.
O grupo se dispersou, com estudantes atravessando o Eixo Monumental correndo, mas se reagrupou minutos depois, gritando "sem violência".
Na portaria do ministério, a PM voltou a utilizar spray de pimenta, dispersando novamente os manifestantes, e isolou a área.
Ao menos uma pedra foi atirada e trincou uma vidraça do ministério. Sinalizadores e pedaços de madeira também foram jogados.
Pichação e quebra-quebra
Antes da confusão, os manifestantes no carro de som pediam para que os estudantes evitassem confrontos. Depois disso, o tom do discurso mudou, utilizando palavras de ordem. O G1 registrou o momento em que uma estudante com máscara pichava um dos vidros da fachada do ministério (veja vídeo abaixo).
Por volta das 12:45 horas, uma Bandeira do Brasil foi queimada por estudantes. Eles aguardavam posicionamento do MEC para uma reunião. Caso não haja um acordo, os manifestantes ameaçavam ocupar o prédio do ministério.
A coordenadora de comunicação do DCE, Ludmila Brasil, disse ao G1 que "a PM teve uma reação agressiva para cima dos estudantes" e relatou que spray de pimenta foi atirado "diretamente no olho de um deles, que saiu daqui com o olho sangrando".
'Fatos isolados'
A Polícia Militar negou confronto por parte dos militares.
"Ocorreram fatos isolados entre alguns manifestantes e um ou outro policial. Os manifestantes quebraram vidraças do MEC e vários indivíduos estavam com os rostos cobertos para não serem identificados, como pode ser observado nas fotos"
Afirmou, por meio de nota enviada ao G1.
A corporação argumentou que o spray de pimenta
"é utilizado como vetor de menor potencial ofensivo e menos que letal para a manutenção da ordem e garantia da incolumidade física das pessoas" e disse que pode fazer "uso progressivo da força" quando "uma ordem verbal é desobedecida e já existe uma situação de confronto".
Até as 13:30 horas, nenhum manifestante tinha sido preso, segundo a assessoria da PM, mas o G1 apurou que um aluno havia sido levado para o carro da polícia por quebrar uma vidraça do ministério.
Manifestação conjunta
O ato foi organizado pelo Diretório Central Estudantil - DCE, pelo Sindicato dos Técnicos da Fundação Universidade de Brasília - SINTFUB, a Federação de Sindicatos dos Trabalhadores em Universidades Brasileiras - FASUBRA e o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior - ANDES.
O grupo se concentrou no Museu Nacional e afirmou que só encerrará o ato após ser recebido pelo ministro da Educação, Rossieli Soares. A portaria do Ministério da Educação foi bloqueada pela Polícia Militar.
Os organizadores estimam que a passeata reúna mais de 800 pessoas. A estimativa da PM é de 500 manifestantes.
O estudante de comunicação Matheus Carvalho afirmou que o objetivo da manifestação é aumentar a quantidade de verbas repassadas à UnB.
"A gente espera a recomposição orçamentária a curto prazo. E, a longo prazo, a revogação da emenda constitucional"
Disse, em referência à Proposta de Emenda à Constituição - PEC que instituiu o teto de gastos, promulgada em 2016.
Apoio da reitoria
A manifestação recebeu apoio institucional da universidade. O Conselho Universitário, órgão formado pela reitoria e por decanos da UnB, emitiu uma nota na última Sexta-feira (180406) afirmando ser “solidário ao DCE e aos estudantes que aderirem ao movimento de paralisação”.
A reitoria da UnB trabalha com a previsão de um déficit orçamentário de R$92.000.000,00 para 2018, o que levou a universidade a anunciar medidas de austeridade, tais como a demissão de estagiários e a discussão sobre o aumento do preço do Restaurante Universitário - RU.
A instituição prevê arrecadação de R$168.000.000,00, mas, deste valor, só pode usar R$110.000.000,00. Na prática, isso significa que a UnB coloca no caixa do governo federal R$58.000.000,00 que não poderão ser utilizados.
O valor serve para diminuir o déficit das contas públicas.
Segundo a reitora Márcia Abrahão, a administração está fazendo "o possível" para manter a universidade em funcionamento com o corte de investimentos do Ministério da Educação e orçamento aprovado pelo Congresso Nacional.
Já a decana de Planejamento e Orçamento, Denise Imbroisi, disse que a PEC de teto de gastos "precisa ser revista se o nosso projeto de sociedade tiver a educação como um elemento importante".
A universidade tenta sensibilizar parlamentares, depois de ter ouvido uma resposta negativa do Executivo.
"O MEC - Ministério da Educação, disse que não tem o que fazer. Que o orçamento é um número fechado, que teria de tirar de uma outra unidade se transferisse para a UnB"
Afirmou Imbroisi.