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26 maio 2019

UNIVERSAL - Entenda o que é cis, trans, travesti, não-binário e mais...

"Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim..." 


               Dorival Caymmi provavelmente não sabia, mas ao escrever os versos de “Modinha para Gabriela” tocou o coração de muita gente que não se encaixa em padrões pré-estabelecidos do que é ser mulher e homem. 

               A identidade de gênero é um tema delicado e envolto em preconceito. E também deixa muita gente perdida na hora de usar os pronomes, já que nem todo mundo é como Pabllo Vittar, um menino gay que se apresenta como drag queen e já afirmou, em público, que não tem preferência por ser chamado de "ele" ou "ela".


               Cisgênero, agênero, gênero fluido, transgênero ... 
               Para ajudar a entender o que estes nomes significam e combater a intolerância, preparamos este glossário. 
               Quem nos ajudou foi a professora de Psicologia do Centro Universitário Celso Lisboa, Selena Rocha
               Confira:

               Expressão de gênero É o modo como cada indivíduo se expressa no mundo. Roupas, linguajar, voz, estilo, comportamento, características socialmente associadas ao universo feminino ou masculino. 

               O debate é tanto que algumas pessoas já estão criando seus filhos com neutralidade de gênero, isto é, sem atribuir às crianças um gênero ou outro a priori, antes que possam ter consciência de identidade. 

               Orientação sexual É como se caracteriza o desejo sexual predominante de uma pessoa, se é por pessoa de gênero diferente, igual ou de mais de um gênero. 


Importante
               Não confunda a orientação sexual (hétero, homo, bi, etc.) com a identidade de gênero. 

               Em linhas gerais, os heterossexuais sentem desejo por pessoas de sexo diferente, enquanto homossexuais por pessoas do mesmo sexo. Ou seja, um homem trans como Thammy Miranda, filho de Gretchen, pode, sim, ser heterossexual. Afinal, ele expressa desejo por mulheres. 

               Já o Ivan, personagem de "A Força do Querer", era um homem trans homossexual, pois sentia atração por homens, como o Cláudio
               Existem muitos como ele na vida real.

               O Unaienses, entra no assunto para esclarecer dúvidas, sem formar opiniões ou distorce-las, agindo imparcialmente, não tornado a favor ou contra, nem com intenção de salientar o que é certo ou o que é errado, apenas tirando dúvidas do que, antigamente, quando mães dava a luz em um hospital, sequer sabia do sexo da criança, e quando tinha seus bebês, a informação era que nascera uma menina ou um menino (macho ou fêmea).
               Hoje o sexo do bebê é revelado aos pais nos primeiros meses de gravidez e, além do sexo, muita coisa tem se modificado no decorrer dos anos, e a identidade de gênero traz muita confusão às cabeças das pessoas. 


Agênero 
               É aquele que tem identidade de gênero neutra, ou seja, não têm um gênero. 

Cisgênero 
               É o indivíduo que se apresenta ao mundo e se identifica com o seu gênero biológico. 
               Por exemplo, se foi considerada do sexo feminino ao nascer, usa nome feminino e se identifica como uma pessoa deste gênero, esta é uma mulher "cis"


Gênero fluido
               Há pessoas que se identificam com aspectos sociais de mais de um gênero em momentos diversos de suas vidas. 
               Ou seja, na prática, o indivíduo pode se sentir mulher em algum momento, homem em outro ou até "flutuar" por outras identidades de gênero, como Agênero


Transgênero
               Este é um termo "guarda-chuva", segundo a GLAAD, organização LGBT americana que monitora como os membros da comunidade são tratados pela mídia. 

               Ou seja, ele abrange todas as pessoas que não se identificam com o gênero que lhes foi designado ao nascer. 
               No entanto, entre a comunidade trans é possível encontrar ainda identidades como "transexual" e "travesti"

               Ambos os termos podem designar pessoas transgênero, mas nem toda pessoa transgênero se sente confortável ao ser tratada por estes nomes. 
               É importante perguntar e esclarecer, caso haja necessidade. 

               Muito frequentemente, o termo transexual se refere a uma pessoa que passou pela transição de gênero de maneira física, através de cirurgia de confirmação de gênero para adequação dos genitais e de tratamento hormonal. 

               Já a travesti seria aquela a quem foi atribuído o sexo masculino ao nascer, mas que se veste e se expressa com características femininas. 
               Nem todos os transgêneros, no entanto, buscam este tipo de transição.


Crossdresser
               A palavra designa uma forma de expressão de gênero. 
               É um indivíduo crossdresser aquele que se veste com roupas associadas, socialmente, a um gênero diferente do seu. 
               A prática não tem em nada a ver com a orientação sexual. 

               Um homem crossdresser pode ser hétero, por exemplo. 
               Ou seja, ele pode sentir desejo sexual por mulheres. 

Drag Queen 
               Diferente do anterior, este termo caracteriza uma expressão artística. 
               Normalmente, ele é associado aos homens que usam roupas do gênero feminino para uma performance. Esses artistas podem ser mulheres, ainda que seja menos comum. 
               Também existem drag kings, mulheres que se vestem com roupas socialmente associadas à expressão de gênero masculina. 


Não-binário
                Termo associado a pessoas cuja identidade ou expressão de gênero não se limita às categorias "masculino" ou "feminino"
               Algumas pessoas não-binárias podem sentir que seu gênero está "em algum lugar entre homem e mulher", segundo a GLAAD, ou até podem definir seu gênero de maneira totalmente diferente, e distante, destes dois polos. 

               Não é, necessariamente, sinônimo de transgênero ou transexual. Uma pessoa não-binária também pode se apresentar como "genderqueer" ou afirmar que tem identidade de gênero "não-conformista".


Mulher de Pênis 
               Travesti é quem não fez cirurgia e trans é quem fez?
               Não. 

Amara Moira quer que as pessoas entendam isso.


               Amara Moira, 32 anos, se apresenta como travesti, feminista e escritora. 
               Referência nos debates de gênero, com mais espaço no Brasil a cada dia, é dona de uma voz delicada e uma sensibilidade sem igual para explicar as causas pelas quais luta. 

               Mesmo quando fala das dores e violências que sofreu para conseguir existir como mulher, "após 29 anos representando um papel imposto pela sociedade", não deixa o otimismo de lado e acredita que a militância de hoje renderá bons frutos.

               Trans, protagonistas do debate Autora do livro "E Se Eu Fosse Puta" e doutoranda em literatura na Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Amara vê o dia 29 de Janeiro, Dia da Visibilidade Trans, como um marco histórico. 

               Nessa mesma data, em 2004, o governo reconheceu a existência de transgêneros e travestis como parte da sociedade pela primeira vez. 

"Passamos a existir de maneira concreta e oficial. 
Mesmo que precariamente, porque surgiu de uma campanha do Ministério da Saúde de combate a doenças sexualmente transmissíveis, foi o reconhecimento possível para a época."
               Catorze anos se passaram e a situação é outra: pessoas trans protagonizam movimentos sociais e têm papel importante nas artes: Liniker e Linn da Quebrada na música, Laerte na literatura e Renata Carvalho, que se destacou ao fazer Cristo travesti no teatro, por exemplo. 

"Estamos ocupando vários lugares na sociedade, mas ainda é muito pouco. Ainda são as exceções que conseguem se fazer ouvir e quebrar os estereótipos que escreveram ao nosso respeito e que orientam a forma como a sociedade nos vê." 


Mulheres de pênis e homens de vagina 
               Amara é uma mulher de pênis. 
               Sempre teve pavor de cirurgia e preferiu evitar ao máximo. 

               Cogitou colocar prótase nas mamas, mas, quando começou a tomar hormônio e os peitos tomaram forma, atingiram um tamanho que ela considera adequado. 

               Para ela, manter o genital é tornar legítimas expressões como "mulher de pênis" e "homem de vagina", para que as próximas gerações tenham modelos de corpos trans para se espelhar. 

"Há 30 anos, quando só existiam referências de homens cisgênero para o primeiro homem trans a se destacar, João Nery, era natural que ele pensasse a própria existência naquele estereótipo para ser reconhecido e se entender. Hoje, a gente descobre que há outras formas de ser homem e mulher." 


               Entretanto, é preciso se dar conta de que o desejo de transformação é resquício dos padrões ensinados. 

"Mudamos os nossos corpos para sermos aceitas. 
Isso não é nenhum crime. 
Temos que lutar contra essa beleza excludente, mas entendendo de onde vem esse mal-estar."

Quero ser referência para outras trans que precisam encontrar a própria força
                Amara Moira.


Mulher trans X travesti 
               Amara diz que foram as ciências médicas e psíquicas que classificaram a transexualidade como "de verdade" e "de mentira". E que causa a típica confusão: 

travesti é quem não fez cirurgia? 
Trans é quem fez? 
               Não e não. 

                A escolha é pessoal, um direito individual. 

               Travesti é uma palavra estigmatizada, diz Amara
               Logo se imagina uma prostituta. Transexual, porém, surgiu nos consultórios médicos, de alguém que conseguiu o que é tido como "a tão sonhada operação". Segundo ela, há uma crença de que a travesti não quer operar e, por isso, está bem com o próprio genital, o que não é necessariamente verdade. 
               Ou que todo transgênero quer realizar a cirurgia: outra mentira. 

"As implicações são perversas. 
E é muito invasivo disponibilizar essa informação na palavra com a qual eu me identifico. Parece que eu preciso dizer como eu lido com o meu genital para validar a forma como eu me identifico socialmente."

               O medo de que apenas aqueles que conseguem lugar de destaque receba o devido respeito é uma preocupação permanente de Amara, e tem fundamento: o Brasil ainda lidera o ranking mundial como país que mais mata travestis e transexuais, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais - ANTRA

               A realidade é crítica: A cada 48 horas um travesti ou mulher trans é assassinada no Brasil


               Em 2017, foram 179 mortes espalhadas por todos os estados do país. 
               Porém, ocupar espaços na mídia, como o papel de Carol Duarte como um homem trans na novela "A Força do Querer", da TV Globo, pode impulsionar mudanças. 

"Com todas as limitações e não chegando nem perto do discurso ideal, a novela permitiu que muitas pessoas começassem um diálogo com suas famílias. Mas precisamos aprofundar essas mudanças e colocá-las em prática."

Gosto de usar 'travesti' porque é a palavra que menos se espera. E eu espero que essa palavra ocupe mais espaços na sociedade 
               Amara Moira.


Enfim, Amara Aos 16 anos
               Amara se viu bissexual e entendeu que poderia sentir atração por homens, e não só por mulheres, como o que fora imposto. 
               Com as meninas era possível se relacionar à luz do dia. 
               Com os meninos, não. 

"Foi muito difícil e algo que só mudou pouco antes do início da transição, quando liguei o foda-se e assumi publicamente meu interesse por ambos." 
               Pouco tempo depois, conheceu algumas travestis. 

"Lembro do dia em que uma delas pediu para me maquiar, para ver como eu ficaria de mulher". 
               Tive um surto: "Sou homem!" Preferia não descobrir. 

               Aos 22 anos, escreveu poemas sob a perspectiva da mulher trans. 
"Eu me dei conta de que os poemas falavam sobre mim." 

               Desse ponto até os 29 anos, quando pediu para a primeira pessoa a chamar de Amara, chegou a tomar hormônio, mas desistiu. 

"Descobri pessoas trans ocupando a sociedade, existindo, e isso me fez acreditar que eu também poderia."

               As pessoas não te criam só para ser heterossexual, mas para ter medo de descobrir que você não é Amara Moira.


Sexo se faz com o corpo 
               Os hormônios e bloqueadores de testosterona fazem a libido cair e o prazer já não se faz visível fisicamente, em uma ereção, por exemplo. 

               Ejaculação, Amara não tem há muito tempo, pois não produz mais espermatozoides. Mas isso não é um problema. 
               A vida sexual, antes, era quase um suplício. 

"Era como se eu saísse do meu corpo durante o sexo. 
Precisava transar para me afirmar como homem e agradar o outro. 
Sexo, até a transição, nunca foi algo para minha própria satisfação." 

               Ela não tem vontade de ter uma vagina nem de usar o pênis durante a relação sexual. Depois da transição, ela se relacionou apenas com homens trans e mulheres. 

"Os homens [cisgênero] que dão em cima de mim são aqueles que querem ficar comigo sem que ninguém saiba. 
E eu não tenho mais paciência para isso. 
Não aceito quem tem vergonha de mim."


               A dependência da coragem alheia para trabalhar Há dez anos, quando iniciava a graduação em letras, Amara foi procurar emprego e acabou contratada como professor em um colégio de Campinas, cidade onde nasceu e foi criada. 

               Hoje, às vésperas de defender seu doutorado em uma das universidades mais prestigiadas do Brasil, precisa "contar com a coragem de uma instituição" para ocupar o cargo de professora. 
               Mesmo assim, Amara leciona. 

               O emprego, que já vai para o segundo ano consecutivo, é em um cursinho que transmite aulas para o país inteiro. Dessa forma, só assiste quem realmente está interessado "e não vai se incomodar com o fato de aprender com uma travesti"

"Os alunos me veem com admiração e demonstram ter prazer em aprender literatura comigo. Eles me escrevem e dizem o quanto é importante ter aula com uma professora travesti, que é uma experiência riquíssima."


O corpo e a existência da travesti diz coisas que a desabonam enquanto uma pessoa capaz 
               Amara Moira.



               
                         Se você não entendeu ainda, o que tentei explicar aqui, por meio desta matéria, nem eu!
                         Agora se você entende bem do assunto e quiser esclarecer mais sobre este assunto, e quer ver sua matéria publicada aqui, com esclarecimentos sobre a diversidade de gênero, encaminhe sua versão para o e-mail: jisohde2016@gmail.com.
                        Teremos imenso prazer em divulgar, sem críticas, sem elogios e sem partidos.

               Com Informações de: UOL.

JISOHDE FOTOGRAFIAS

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