Profissionais recriam aréola e mamilo; projeto também cobre cicatriz de mastectomia com desenhos delicados. Trabalho é gratuito; saiba como se inscrever.
Uma iniciativa de tatuadores do Distrito Federal está ajudando a resgatar a autoestima de mulheres que venceram a luta contra o câncer de mama.
Com o uso de técnicas realistas, com variação de sombras e cores, a tatuagem 3D (em três dimensões) permite que os profissionais redesenham o mamilo e a aréola do seio de quem passou por cirurgia para a retirada de tumor.
A cada
“Outubro Rosa”, a ação se intensifica e as interessadas podem se inscrever, de graça, pela
internet. O único critério, é o atestado médico que dá a indicação para o procedimento.
"Parece que o mamilo está saindo da pele"
Dizem algumas mulheres.
Micro-pigmentação paramédica
A aposentada Márcia Mendes, de 52 anos, foi uma das mulheres atendidas pelo projeto. Aos 39 anos, ela foi diagnosticada com câncer na mama esquerda. A cirurgia de mastectomia - retirada da mama - aconteceu em menos de 30 dias após a identificação da doença. E, mesmo com a implantação da prótese de silicone para dar uma nova forma ao local mutilado, ela diz que a “autoestima não estava completa”.
Para Márcia faltavam os detalhes do mamilo e aréola do seio. A vontade de se olhar novamente no espelho só veio após o procedimento com um dos tatuadores.
Segundo ela – que até então nunca teve uma tatuagem - a satisfação foi tanta que decidiu também cobrir a cicatriz da mastectomia com um desenho.
“Minha depressão já tinha alcançado o último nível. Foi aí que fiz uma rosa em cima da cicatriz. Ficou linda e só ajudou na minha autoestima, porque foi algo feito com muito carinho.”
Curada do câncer e agora com uma tatuagem, a aposentada ajuda a divulgar a inciativa de “micro-pigmentação paramédica” – como é conhecida a técnica – e leva até outras mulheres o que ela considera essencial: autoestima e informações sobre prevenção.
“Hoje posso dar uma aula de conhecimento da situação e de autoestima também.
Aos 52 anos continuo super vaidosa.
Me sinto ótima!”
Quem faz acontecer
O tatuador Cleison Rosa Leite, mais conhecido como PH Tatoo, é um dos profissionais que está à frente da iniciativa. Há sete anos ele começou, de forma independente e gratuita, a atender as mulheres que foram submetidas à mastectomia.
"Tudo começou com o procedimento em uma amiga que superou a doença mas, durante o tratamento, ela perdeu parte da mama"
Lembra PH.
“Ela ficou muito emocionada e desde então decidi fazer o trabalho e não cobrar.”
A recompensa, diz o tatuador, é “ver no outro o sentimento de realização”.
Outros tatuadores
Depois da primeira experiência,
PH se uniu a outros profissionais e há três anos o grupo participa do
“Brasília Tatoo Festival”.
A convenção de tatuagem, uma das maiores do Brasil, reúne no Distrito Federal tatuadores de todo o mundo em busca de divulgação da arte e também de “fazer o bem”.
Este ano, o evento acontece de 3 a 5 de novembro no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em Brasília-DF. Apesar do custo do ingresso para o público em geral (R$25,00 – meia), a tatuagem para cobertura de cicatriz em mulheres mastectomizadas e para reconstituição da aréola e mamilos é de graça.
Além da gratidão das mulheres atendidas, com o trabalho em benefício de alguém, PH teve também o reconhecimento da equipe médica. Atualmente o tatuador ministra cursos para médicos interessados em aplicar a técnica em pacientes imediatamente após a cirurgia de implantação de prótese mamária.
Câncer de mama
Segundo a Organização Mundial da Saúde - OMS, o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres e também o mais letal, sendo a segunda principal causa de morte na América Latina.
A nível mundial, entre todos os tipos de câncer, o de mama é o que mais mata mulheres na faixa dos 20 aos 59 anos. A doença também atinge homens, mas a incidência representa 1% do total.
O Instituto Nacional de Câncer - INCA estimou 57.960 novos casos de câncer de mama no Brasil em 2017. Somente no DF, a previsão é de 1.020 novos casos.
Apesar do aumento das taxas de câncer de mama em mulheres mais jovens, ainda assim, a faixa etária entre 40 e 50 anos representa 74% do casos. Por isso, a Sociedade Brasília de Mastologia recomenda a realização da mamografia anualmente a partir dos 40 anos.
Já a indicação do Ministério da Saúde é que o exame seja feito a cada dois anos pelas mulheres com 50 anos ou mais – grupo considerado prioritário.
Reconstrução mamária
Desde 2013 uma
lei obriga o
Sistema Único de Saúde - SUS a realizar cirurgias de reconstrução mamária em mulheres que retiraram a mama devido ao câncer. No
Distrito Federal, o procedimento, segundo a
Secretaria de Saúde, é feito nos hospitais regional da
Asa Norte-DF,
Santa Maria-DF e
Sobradinho-DF.
Ainda de acordo com a pasta, em média por ano, são feitas 860 cirurgias plásticas desse tipo no DF. Já o tratamento de câncer de mama na rede pública de Saúde é feito no Hospital de Base e nos regionais de Sobradinho, Taguatinga-DF e Gama-DF.
Serviço:
Brasília Tatoo Festival
Inscrições para micro-pigmentação mamária podem ser feitos no
site do evento.
Vagas são limitadas a até 30 mulheres.
Dia e hora a combinar.
O procedimento é gratuito e precisa de indicação médica.