Duas jovens de 20 anos afirmam terem sido vítimas de massagista investigado. Até ontem, havia 54 depoimentos com conteúdos semelhantes. Clínica onde o suspeito atende ficou fechada.
"Ele me deixou completamente nua.
Eu me senti muito violada"
Contou em entrevista uma jovem de 20 anos. Ela se referiu ao massagista de 29 anos investigado pela Polícia Civil por abuso sexual.
Até nesta Quarta-feira (190123), 54 mulheres disseram ter sido vítimas do homem, em depoimentos formais e por meio de páginas na internet.
Todas dizem ter sido violentadas na clínica em que ele atende e é o dono, no Sudoeste, bairro onde mora em Brasília-DF. O imóvel amanheceu fechado nesta Quarta-feira, um dia após ser alvo de busca e apreensão por agentes da Delegacia de Atendimento à Mulher DEAM, que apuram o caso.
A reportagem localizou e entrevistou duas dessas mulheres. Elas ainda vão ser ouvidas pela polícia. Ambas disseram ter sido convidadas a fazer sessões experimentais em troca de publicidade para clínica, aberta no fim de 2017. Na conta da firma no Instagram, há dezenas de fotos e vídeos de mulheres de biquíni e seminuas (com os seios à mostra), deitadas em uma maca ou em frente a um painel com o nome e a marca do estabelecimento.
Também há diversos closes em nádegas femininas.
Uma das jovens que conversou com a equipe do jornal contou que chegou à clínica, em Outubro, para uma sessão de massagem relaxante acompanhada de uma amiga, mas o homem que a atenderia não deixou ninguém seguir o atendimento.
“Ele alegou que era um momento de relaxamento e que, se outra pessoa estivesse na sala, eu não ia conseguir me concentrar”
Lembrou a mulher, uma maquiadora.
Na sala fechada, o massagista citou as modalidades de serviço oferecidos.
“Ele falou da tântrica, dizendo que colocaria a mão nas minhas partes íntimas, mas que era extremamente profissional. Disse que clientes chegavam ao orgasmo com a técnica e que, se acontecesse comigo, não precisava ficar constrangida. Mas eu disse que não queria essa e optei por uma de relaxamento”
Explicou a jovem.
No procedimento, o homem desatou o biquíni da cliente.
“Ele me deixou completamente nua.
Naquele momento, me questionei.
Achei que era coisa da minha cabeça e que ele era o profissional.
Mas ele começou a me apalpar invasivamente”
Contou a mulher.
“Eu me esquivava, só que ele disse para eu ficar calma, pois sabia o que fazia.
Senti-me muito violada.
Nunca mais voltei”
Concluiu.
Cunho sexual
A outra jovem ouvida pela reportagem, uma estudante de publicidade que foi à clínica em Novembro, também disse ter sido abusada e impedida de entrar na sala de atendimento com uma amiga. O massagista a mandou enrolar o short até que ficasse no formato de uma calcinha, pois ela só havia ido com a peça superior do biquíni de amarrar.
“Quando entramos na sala, ele trancou a porta.
Ao falar das massagens, ele deu ênfase nas sexuais.
Contudo, eu disse que não estava interessada e que queria a modeladora”,
Contou a universitária.
Ela lembrou ainda de comentários sexuais durante o procedimento.
“Ele perguntou se eu tinha namorado, falou de signo, disse que era escorpiano, amava sexo e era muito bom no que fazia.
Também reclamou da namorada dele.
Fingi que dormia, porque só queria ir embora.”
Uma terceira cliente entrevistada disse que não se sentiu abusada pelo massagista, mas que o modo dele trabalhar levanta dúvidas.
“Ele pedia para ir de biquíni de amarrar e depois abria, dizendo que era para massagear os flancos. E ficava muito tempo massageando a virilha. Fiquei constrangida, mas entendi que poderia ser um novo método de massagear os linfonodos.
Hoje, acho que não era nada disso”
Observou.
Consentimento
Na Terça-feira, agentes apreenderam na casa e clínica do suspeito, materiais eletrônicos e cerca de 400 fichas de atendimento. Um dos documentos analisados chamou a atenção da investigação, o Termo de Consentimento para Contato.
A delegada-chefe Sandra Melo explicou que uma cláusula estipulava que as clientes deveriam se submeter às manobras do profissional, com o risco de que os procedimentos estéticos poderiam não ter efeito. As clientes também deveriam consentir a divulgação da imagem delas nas redes sociais.
No entanto, policiais viram que o massagista também mantinha as fotos das possíveis vítimas no celular pessoal. A DEAM notificou a Agência de Fiscalização - AGEFIS, porque o suspeito não tinha o alvará de funcionamento da clínica, que fica no primeiro andar de um prédio, vizinho a lojas e quitinetes.
Com Informações de: EM.