"Por que devemos falar sobre suicídio para profissionais da segurança pública?"
Foi esse o tema central que serviu como fio condutor da palestra da psicóloga Gildete Felisberto da Silva proferida no auditório do 28º Batalhão da Policia Militar, na manhã desta Terça-feira (180918), em Unaí-MG.
A palestra é uma das atividades do Setembro Amarelo, sensibilização para prevenção ao suicídio, e foi uma iniciativa do Centro de Atenção Psicossocial - CAPS da Prefeitura Municipal de Unaí.
A coordenadora do CAPS, Karita de Oliveira, e parte da equipe estiveram presentes.
Cerca de 60 policiais militares assistiram à palestra.
Ao iniciar a palestra, a psicóloga explicou que o fator de risco para suicídios atinge pessoas de todas as profissões e das mais variadas idades, mas que policiais militares fazem parte de um grupo de risco para desenvolvimento de problemas psíquicos, em razão da natureza do trabalho e das pressões a que estão sujeitos no dia a dia.
"O policial precisa garantir a ordem pública, dar exemplos de conduta e de comportamento, trabalhar no limite, e ainda lidar o tempo todo com a vida (sua e dos outros) nos seus mais variados aspectos.
E tudo isso sob muita pressão.
E o sofrimento dos policiais brasileiros ainda é invisível aos olhos dos gestores.
Há pouco investimento na saúde mental desses agentes"
Ressaltou Gildete.
O transtorno mental grave é a principal causa de suicídios no mundo. E, segundo especialistas, o problema tem tratamento, desde que se busque o atendimento especializado adequado e em tempo hábil.
No sistema público municipal, o CAPS oferece o atendimento multiprofissional, incluindo médico psiquiatra e psicólogo, para abrandar a dor e o sofrimento do portador do transtorno mental.
A palestrante exibiu dados de pesquisa realizada na Polícia Militar do Rio de Janeiro e focalizou três casos de suicídio na corporação: dois homens e uma mulher.
Ela sublinhou a proporção dos casos em análise para ressaltar que o suicídio atinge mais homens do que mulheres e argumentou:
"Por questão de imposições culturais, as mulheres falam mais de seus problemas, desabafam mais.
Os homens precisam mostrar o tempo todo que são fortes. Eles sufocam a dor, o sofrimento, escondem os problemas. São muitas vezes dores mascaradas, camufladas, que ficam invisíveis aos olhos da própria família. A mulher não.
Ela chora, desabafa, busca ajuda".
Depois de exibir os casos, a palestrante propôs uma reflexão ativa. A resposta foi a interação com a plateia e participação expressiva dos militares.
Ao final, a música de Roberto Carlos
"É preciso saber viver" foi cantada e tocada ao violão.
Sinais
A palestrante disse que colegas de trabalho, amigos, familiares são peças-chave para ajudar a vítima de transtorno mental que pode estar a caminho do suicídio.
Segundo ela, antes de dar cabo da própria vida, a pessoa emite sinais, para os quais é preciso ficar muito atento.
"Precisamos saber ler esses sinais e criar uma rede de apoio à pessoa, oferecer ajuda profissional o quanto antes"
Alerta.
Na opinião da psicóloga, alguns mitos devem ser desconstruídos, para que a ajuda se efetive e a pessoa seja encaminhada para o tratamento. Um dos mitos é de que não se deve falar sobre suicídio, deve calar-se.
"Discordamos disso.
Deve-se falar sim.
E falar muito.
Mostrar que a pessoa não está sozinha, oferecer ajuda, dar o apoio de um ombro amigo e propor o atendimento profissional"
O outro mito a ser desconstruído, segundo a palestrante, é o senso comum de que psiquiatra é médico de louco.
"O psiquiatra é médico como os outros médicos.
E, como os outros médicos, ele faz o diagnóstico do problema da pessoa e receita o medicamento.
Tudo natural".
Contra mitos e a favor da vida, Gildete afirma a necessidade de se criar uma rede de proteção em torno da pessoa acometida por transtornos mentais.
"Se alguém ameaça tirar a própria vida, leve a sério e procure ajuda profissional para tratá-la"
Adverte a psicóloga, que exibiu a seguinte frase para a plateia:
"Suicídio não é drama, não é pra chamar a atenção, não é falta de Deus.
E muito menos, frescura.
Suicídio tem base em dores e sofrimentos reais, concretos"
CAPS
Ao final da palestra, a coordenadora do CAPS, Karita Rosa de Oliveira, explicou o funcionamento da unidade em Unaí e a colocou à disposição para atendimento e acompanhamento das pessoas com transtornos.
Explicou que ainda há muito desconhecimento e preconceito com relação à saúde mental, mas que o CAPS procura trabalhar toda a rede de saúde para o primeiro atendimento ao necessitado, principalmente em casos de emergência que chegam ao serviço de Pronto-Atendimento - PA do Hospital Municipal de Unaí - HMU.
O Centro de Atenção Psicossocial de Unaí é um serviço de saúde especializado que funciona integrado à rede de Saúde Pública Municipal.
A unidade possui equipe multiprofissional, médico psiquiatra, psicólogo, enfermeiro, assistente social, entre outros, que atende portadores de transtornos mentais graves e persistentes, bem como doentes crônicos incapacitados e com a qualidade de vida afetada.
Endereço do CAPS
O CAPS fica na Avenida Transamazônica, 395, Bairro Divineia.
Funciona de Segunda a Sexta-feira, das 7:00 às 17:00 horas.
O Telefone é o 3677-2741.
Com Informações de:
PMU - UNAÍ-MG.