População atribui aspecto escuro das águas e morte de peixes a descartes de uma granja, que passou a destinar resíduos ao SAAE; presidente do órgão afirma que água é ‘quase potável’.
O aspecto escuro de um rio da zona rural de Francisco Sá-MG, no Norte de Minas, tem preocupado moradores da cidade.
Passa pela região, conhecida como Angico, o Rio São Domingos, que corta a principal avenida da cidade e é um dos mais importantes afluentes do município. Nas águas, criou-se uma crosta de cor esverdeada e peixes têm aparecido mortos na superfície. A população atribui a poluição do local aos rejeitos de uma granja que passaram a ser enviados à Estação de Tratamento de Esgoto do Serviço Autônomo de Água e Esgoto - SAAE e, depois de tratados, dispensados no rio.
A Associação de Produtores Rurais e Famílias do Angico tem mais de 20 famílias cadastradas. As plantações e o gado criado nas fazendas dependem diretamente da água do Rio São Domingos, de acordo com o presidente da associação, Antônio Welton da Silva. Mais de 100 pessoas da zona rural assinaram um abaixo assinado que pede revisão do tratamento da água rejeitada pelo SAAE e a proibição de dispensa de rejeitos da granja nas águas do rio, segundo a associação.
“Já morreu um bocado de peixe, a poluição está matando tudo. É só passar pela ponte que dá para ver os bichos mortos na água.
O gado das fazendas que ficam mais próximas ao rio não pode mais beber a água. Na verdade, nem o gado quer tomar aquilo.
Vinha gente da cidade pescar aqui, ninguém vem mais.
Dá até dó de olhar para a água e ver uma situação dessas”
Comenta o presidente da associação.
De acordo com Antônio Welton, as famílias têm buscado alternativas em poços artesianos. Ele afirma ter medo de formalizar denúncia junto a Polícia Ambiental, e que foi acordado com o SAAE a interrupção dos efluentes, por intermédio de vereadores.
“Não formalizamos a denúncia ainda porque sei que a multa vai ser demais, e vai prejudicar o município que já tem pouca água, imagina sem o SAAE.
A verdade é que a gente fica esperando parar.
Eles vieram aqui, tiveram reunião com os vereadores e disseram que iriam interromper até analisarem a água”
Afirma.
O que diz o SAAE
De acordo o SAAE Francisco Sá, o contrato firmado entre o órgão e a granja foi assinado em Setembro de 2017.
A Prefeitura Municipal recebe diariamente R$1.000,00 pagos pela empresa para que os rejeitos provenientes de lavagem de ovos de galinha sejam tratados, antes de dispensados no Rio São Domingos.
O SAAE enviou ao G1 relatórios nos quais a qualidade da água do rio é estudada. No último mês de maio, segundo o órgão, a água era 80,40% potável. Os números apontam que a qualidade da água melhorou, apesar do questionamento dos moradores.
Em 2016, segundo a empresa, o tratamento tinha 79,1% de eficiência e em 2017, 68,15%.
O diretor presidente do SAAE, Roberto Miranda, atribui às denúncias dos moradores e Câmara de Vereadores a uma perseguição política.
“Nós estamos preocupados em administrar, mas a oposição perturba demais. Isso é uma fofoca criada para prejudicar a gestão”
Afirma.
Suspensão do serviço
Conforme acordado com a Câmara de Vereadores de Francisco Sá, o SAAE suspendeu o recebimento de rejeitos da granja até que outro estudo da água seja feito.
“Nós gastamos recentemente R$5.000,00 para fazer análises, e vamos ter que gastar novamente para provar que a água está boa. Ela está quase potável. O que acontece é porque, em decorrência das chuvas, os rios param de correr, e formam poças que acumulam algas. Por isso os peixes têm morrido, e a cor da água tem ficado verde, mas isso acontece todo ano”
Diz Roberto Miranda.
O SAAE afirma ter provado que o tratamento melhorou de eficiência e que limpa o esgoto através de sistema biológico composto por bactérias. Não há previsão de quando o resultado de um novo estudo vai ser divulgado.
Apesar das declarações do presidente, Antônio Welton, da Associação de Produtores Rurais do Angico, afirma que a situação do Rio São Domingos surpreende os moradores da zona rural.
“Tem 50 anos que mexemos aqui, nós nascemos e criamos no Angico. Nunca vi a água nessa situação, mesmo com a pouca chuva que enfrentamos nos últimos anos. Teve época em que o esgoto vinha sem tratar, e mesmo assim não ficava desse jeito.
Foi esse ano que piorou”
Comenta.
Sobre o estudo divulgado pelo SAAE, que revela que a água é 80,40% potável, o morador do Angico contesta.
“É uma vergonha falar que essa água é potável.
Ninguém tem coragem de beber, nem eles.
É só passar rápido pela ponte para ver os animais mortos, nem os bois querem tomar”
Diz Antônio.
Até a publicação desta matéria, a granja não informou se acompanha o controle de qualidade do tratamento dos rejeitos e sobre como os efluentes serão tratados no período de suspensão contratual com o SAAE.
O G1 fez contato com o setor da empresa responsável pelo meio ambiente, mas as ligações não foram retornadas.
Com Informações de: G1.
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