Um dia pela cidade, rodando e sofrendo decepções com a falta de estruturas para um cadeirante se locomover sem problemas.
Depois de quase trinta dias sem sair de casa, surge-me a necessidade de sair para fazer umas compras, entre elas, procuro por uma tomada (régua com 5 tomadas), para meu computador que estava desligando a energia e causando problemas!
Então estava eu rodando pela Avenida Governador Valadares, em busca de uma loja, que não mais existe no endereço.
Um detalhe:
Cadeira motorizada é muito bom, ajuda muito, inclusive ao usuário a ganhar peso e barriga, mas quando se fala de locomoção... nem tanto!
Um dos maiores problemas é o de sair da calçada e ir para a rua ou da rua para a calçada, o outro segundo maior problema é que ela possui baterias e a carga dela poderá acabar e o usuário não pode ficar dando rolés por ai sem grandes necessidades.
O terceiro grande problema: A Falta de rampa! Esse é o problema...
Para o andante, todo lugar que olha tem uma rampa, verdade! Tem rampa em toda esquina, uma de lá, outra de cá, outra dalí... mas para quem usa uma FREEDOM não é bem assim...
Cheguei na esquina da Avenida Governador Valadares com a Rua Aldeia, ali na porta daquela farmácia, havia duas rampas, e quando as olhei, a cabeça coçou como se estivesse pingando de piolhos! Cocei a cabeça, parei um pouco, e depois analisei uma e outra, e escolhi descer na que achei mais viável, aquela que fica no sentido de quem quer cruzar a avenida, indo em direção da construção que fica ao lado da REDE ELETROSOM, na esquina em direção de onde era o posto de abastecimento.
De cara, percebi que não dava para descer de frente e fui de ré, por ser as rodas maiores e o impacto seria mais suave, sem riscos de capotar...
Como que para descer "todo santo ajuda", eu desci.
Desci e fiquei encalhado dentro da sargeta, que pode muito bem ser chamada também, "irônicamente" de CANALETA.
Lá fiquei eu, preso dentro da canalização que, parece ser construída para "Capturar cadeirantes".
Naquele momento o cadeirante ferve, fica verde, azul, amarelo... trasforma-se no Hulk, só não rasga as roupas e nem fica forte, pelo contrário, se sente tão vulnerável, fraco, triste, nervoso nem adianta ficar... está preso como em um torno. Acelerar a cadeira não adianta, somente se ouve um chiado dos motores impotentes que só vai gastar a carga da bateria.
Esperar é a solução, relaxar e ter calma para responder, quando alguém te perguntar se quer que o ajude a "descer", sendo que esta no nível mais baixo da situação!
RAMPAS
ISTO AI ☝ CHAMA-SE DE "RAMPA"
Oficialmente é chamada de rebaixamento de calçada para pessoas com mobilidade reduzida (que frescura!).
Rampa prá acesso à cadeirantes, basta, ou como quiser ...
Bonitinhas, com declive/aclive feito dentro da normalidade, muito chique...
PORÉM...
Por mim reprovadas e por todos os demais cadeirantes.
PORQUÊ? Já explico:
Porque ao acessar a calçada [SUBINDO], de frente a rodinha dianteira da cadeira choca-se contra o degrau da cantoneira de ferro (que protege a quina da calçada), e assim não é possível subir. Ao tentar uma ré, de volta para o asfalto, as rodinhas dianteiras precisam girar 180º dentro da maldita canaleta (Sargeta rebaixada) e as rodas tracionadas (grandes e trazeiras) puchar para "subir" para o asfalto, e assim dar meia volta seguindo de frente, para onde se desejar ir.
Tem mais um problema, quando as rodas trazeiras cái da cantoneira, e se apoia dentro da sargeta, que parece ser feita na medida para encalhar a roda, as rodinhas de segurança da cadeira, que fica atrás, fixas em duas astes, fica firme no asfalto e assim as rodas grandes, trazeiras e tracionadas ficam livre do piso da sargeta, de forma que quando acelere a cadeira, elas giram livremente!
Ai é quando o usuário apita como o Popaye, se transforma no incrível Hulk, o sangue ferve a cabeça dói, e os milhões de piolhos imaginários começam a percorrer todo o crânio, e ainda vem uma pessoa educadamente e te pergunta se precisa de ajuda para DESCER a rampa!
Relaxa Geraldo, calma, não infarte, espere, não olhe as horas, está muito cedo ainda, o sol não está quente, o clima gélido de Unaí vai refrescar tua cabeça e nem maltrate esse monte de bípedes que pararam só para te olhar, eles querem te ajudar, ou pelo menos se divertir enquanto você, bem você ferve de raiva.
Alguém te cumprimenta estendendo a mão, Tudo bem Geraldo?
Quando levanto as vistas embaçadas... os olhos também (menos que de um cascavel), percebo que era um amigo da infância, que me reconheceu! peguei na mão dele, cumprimentei-o e ele me pergunta se precisava de ajuda!
Nessas horas, já estava mais calmo, as vistas recuperando... fui rebocado para o asfalto, e em seguida segui meu caminho...
Fotografei o local, esta rampa da foto, que prefiro chmá-las de ARMADILHA PARA CAPTURAR CADEIRANTES. Tem para todo o lado no Centro de Unaí-MG, no Noroeste de Minas, bonitinhas, em cerâmica, com a maldita canaleta (Sargetas rebaixadas) que tiram o direito dos cadeirantes usarem as "RAMPAS" e dão preferência para a água que corre uma vez no ano, de passarem livremente.
PROTESTO
As autoridades, como Prefeito, Secretário de Obras, Vereadores, passam por elas engrandecidos em vê-las ali, bonitinhas, considerando que o município cumpre com as normas de locomoção, mas na verdade são COMPLETAMENTE INÚTEIS, e não pode ser utilizadas pelos cadeirantes, mas, parece que ninguém quer se importar com isso mesmo!
Os mestres de obras, engenheiros e políticos não usam cadeira-de-rodas mesmo...
Dane-se quem precisam delas para locomoção pela cidade, disputamos espaço no meio da rua com veículos, motocicletas e bicicletas, estamos habituados a correr risco de vida pela rua, e calçada mesmo é local para donos de bares servir mesadas de cervejas, logistas expor suas mercadorias, como acontece na Governador Valadares ao lado de onde ficava o Safra Tratores.
Já reclamei, mas não adianta, fiz fotos e mostrei para fiscais da prefeitura; vá você lá e confirma, a calçada é tomada por mercadorias e... o que é que tem? não passa cadeirantes por ali!
Com razão, não há espaço.
CONCLUSÃO
De volta pra casa, um parafuso quebrado, sem condições de locomover nem mesmo dentro de casa, solicitei meu irmão para procurar tal peça e remontar minha cadeira!
Decepcionado e constrangido, sem comprar o que precisava, agora, talvez daqui a um mês eu volte às ruas, em busca de mais uma aventura desagradável como esta!
Jisohde - Texto e fotos
Em:
Mais um dia me decepcionando com a realidade de minha cidade natal quando se trata de acessibilidade!
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