Ser amiga(o) de um cadeirante é compreender, de fato, que o mundo possui muito mais desafios do que imaginamos.
É educar o seu cérebro para uma mente muito mais inclusiva. É entender que se o seu amigo cadeirante não consegue frequentar determinado local, ali não é bom o suficiente, mesmo quando você está falando da sua própria casa.
É se descabelar quando escuta a palavra “escara”, porque só quem tem um amigo cadeirante de verdade entende o real significado dessa palavra.
É saber que espasmos não representam um ataque cardíaco.
É odiar passeios desnivelados, obstáculos e tapetes.
Ser amiga(o) de um cadeirante é aprender o porquê de você não poder estacionar nas vagas reservadas para pessoas com deficiência nem por um minuto.
Ah, é inclusive aprender porque o termo correto é: pessoa com deficiência. É aperfeiçoar todos os dias a arte da paciência: entenda, ele levará o triplo do tempo para entrar e sair do carro, e nesse momento você aprenderá o prazer de poder ajuda-lo.
Ser amiga(o) de um cadeirante é aprender que você não precisa falar com voz de bebê e nem cheia de pudores, pisando em ovos, muito menos que tem que ficar rindo o tempo todo para ele.
Você pode ser quem você é.
Pode, se necessário, chorar, gritar, brigar, “pedir colo”, criticar e tudo mais... é incrível!
Eles não quebram pelo simples fato de vocês terem uma relação normal.
E acreditem... muitas vezes eles possuem um senso de humor bem mais aguçado que o seu.
Ser amiga(o) de um cadeirante é pisotear todos os dias sobre seus próprios preconceitos.
É tornar seu amigo um “objeto” de estudo, porque você quer saber dele todas as dúvidas que todo mundo tem.
É correr desesperadamente até ele para contar todas as vezes que você: ver, encontrar, conhecer, conversar com qualquer deficiente.
É contar para qualquer pessoa nova que você conheça que você tem um amigo cadeirante.
É saber de todos os eventos da cidade que abordem sobre a dignidade da pessoa com deficiência e se tornar um “consultor” sobre o assunto, porque todo mundo quer tirar dúvidas com você.
É comprar briga.
É trabalhar o tempo inteiro com logísticas.
Ser amiga(o) de cadeirante é andar com seu amigo por aí e por um minuto analisar o mundo ao seu redor e se perguntar:
“Por que estão todos encarando?”
Já que na maior parte do tempo até mesmo você esquece a deficiência dele.
Ser amiga(o) de cadeirante é percorrer a linha tênue da autonomia e da dependência.
É pedir constantemente:
“Me conta de novo a sua história?”
Pelo simples fato de ser a história mais emocionante que você conhece.
É se emocionar, com a alma, em todas as conquistas dele.
Ser amiga(o) de um cadeirante é, todos os dias, ter um choque de realidade ao reclamar da sua vida e se lembrar das inúmeras dificuldades que ele suporta.
É ter um exemplo.
É agradecer a Deus todos os dias, pelos mais variados motivos, pela vida dele.
(Jéssica Matos)
Com Informações de: CC.
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