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24 fevereiro 2020

PLANALTINA-DF - “Fiquei paraplégica por causa de um piercing” Afirma Layane Dias

O acessório provocou infecção na medula óssea da brasiliense e a deixou dependente de cadeira de rodas.


                Como toda jovem de 20 e poucos anos, Layane Dias estava ansiosa para iniciar a vida profissional e concretizar o sonho de viajar pelo mundo. Inesperadamente, ela viu seus planos serem interrompidos por um grave problema de saúde: Uma infecção na medula óssea causada após colocar um piercing no nariz.

                 A reação extremamente rara à perfuração, amplamente realizada por jovens e adultos para fins estéticos, quase tirou a vida da brasiliense. Como sequela, a deixou refém de cadeira de rodas. Em entrevista ao Metrópoles, Layane lembra o episódio que chama de “divisor de águas”, e conta como resgatou a autoestima com a ajuda do esporte e das redes sociais.

                 Aos 22 anos, a moradora de Planaltina-DF não se culpa. Pelo contrário. Lança luz à efemeridade da existência. 


“Tudo que somos e conhecemos pode mudar em um piscar de olhos. Foi o que aconteceu comigo. Decidi colocar o piercing em Junho de 2018. Uma semana após a aplicação, notei uma bolinha vermelha ao lado do acessório. Não levei a sério por deduzir ser uma espinha. Mal sabia que aquele era o primeiro indício de uma severa infecção”
                 Rememora.

                 O primeiro sinal de que algo não estava bem veio em forma de inflamação no nariz, tratada por Layane como espinha. 
“Sorte que não a estourei! 
Se tivesse mexido nela, a infecção poderia ter se espalhado para a face”
                 Revela

                 Em uma semana, a suposta espinha desapareceu, mas outro sintoma, mais intenso e doloroso, veio à tona. 

“Comecei a sentir fortes dores nas costas e no pescoço. 
Creditei o desconforto a uma noitada de curtição que tive com as amigas. Nunca imaginei que o incômodo pudesse estar atrelado ao acessório”
                 Revela.

                 A intensidade dos incômodos se agravou. Layane decidiu ir ao médico pela primeira vez após a aplicação do adereço. 

“Fizeram um raio-X, que não apontou nada, 
mas eu sentia muita dor”

                 Ela tomou um coquetel de remédios e uma injeção para aliviar o mal-estar e voltou para casa, sem grandes respostas em relação às possíveis causas do desconforto.

                 Dias depois, após se consultar com outros médicos e, mesmo assim, não se sentir melhor, a jovem sentiu as pernas fraquejarem e pediu ajuda à mãe para tomar banho. Em seguida, foi a uma igreja perto de casa. 
                 Espirituosa, pediu para que o desconforto cessasse. 

“Quando voltei, a dor estava insuportável. Deitei e dormi. Quando acordei, naquela tarde, não senti mais as minhas pernas.”


Cinquenta e sete dias de internação

                 Naquele momento, a jovem foi levada às pressas ao Hospital de Base, onde há melhores equipamentos, se comparado ao Hospital Regional de Planaltina - HRP, frequentado por ela anteriormente. 

                 No centro de saúde, fizeram uma bateria de exames e identificaram uma infecção pela bactéria Staphylococcus aureus, que pode causar mazelas em diferentes níveis ao atingir a corrente sanguínea. 
                 À época, a jovem não podia suspeitar que aquele era o início de uma jornada de 57 dias de internação.


                 Layane passou por uma ressonância magnética que alertou a presença de 500 mililitros de pus em três vértebras da medula espinhal. Ela passou por uma cirurgia de urgência para a retirada do líquido. 
                 Após a intervenção cirúrgica, foi diagnosticada com paralisia nas pernas.

“Estava muito assustava e sem saber o que havia motivado a paralisia. Só associei a lesão ao piercing quando o médico perguntou se tive alguma ferida recente no nariz, porque essa bactéria é comumente desenvolvida nas fossas nasais. Foi então que contei a ele que havia colocado o acessório, no mês anterior”
                 Recorda.

“Ao ouvir minha resposta, ele disse: o adereço foi a porta de entrada da bactéria no seu corpo. 
Aquelas palavras me deixaram devastadas”
                 Relata.


                 O quadro começou a fazer sentido para Layane quando ela se lembrou de ter tido sangramento no momento da perfuração do piercing, fato que indica que o profissional que aplicou o acessório atingiu um de seus vasos sanguíneos. Outro detalhe que, até então, havia passado despercebido por ela era a qualidade da joia. 

“Quando mostrei a peça ao médico, ele afirmou que tratava-se de uma bijuteria enferrujada”
                 Relembra.

                 Segundo o infectologista Alberto Chebabo, do Laboratório Exame, um piercing, mesmo esterilizado, pode ser a porta de entrada ideal para bactérias como a Staphylococcus aureus, um micro-organismo invasivo que, em casos severos, pode causar septicemia (infecção generalizada).

“Casos como o dessa paciente são raros, mas possíveis. Muitos subestimam as complicações de um piercing. Não deveriam. Além de realizar o procedimento em estúdio seguro, é preciso ter atenção à limpeza em casa para garantir a cicatrização correta”
                 Alerta o especialista.


                 Essa bactéria ganhou grande destaque na mídia ao causar a morte de Arthur Araújo Lula da Silva, 7 anos, neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2019. O menino faleceu justamente por uma infecção generalizada provocada pelo micro-organismo.

Nova vida

“Quando estava prestes a sair do hospital, uma psicóloga veio conversar comigo. Contei a ela que tinha medo dos outros sentirem pena de mim. Foi quando ela me disse: ‘as pessoas só sentem pena de cadeirantes tristes. Por isso, demonstre alegria’. Aquilo mexeu comigo.”

                 Após os quase dois meses de internação, Layane teve que reaprender a viver na cadeira de rodas. 

“Sempre fui muito vaidosa e não pensei que poderia ser plenamente feliz sem andar. Mas o incidente veio acompanhado de muita maturidade. Revi vários conceitos e me tornei uma pessoa melhor. Hoje, posso dizer que a minha menor mudança foi a paralisia”
                 Diz.

                 Apesar de perder o namorado – que não deu apoio à companheira, ver a mãe largar o emprego para cuidar dela e interromper o curso universitário de Recursos Humanos, a jovem mantém sorriso fácil e otimismo. Compartilha toda essa boa energia no Instagram, rede social na qual é seguida por 55.000 pessoas.

“Decidi relatar o meu caso e abrir o meu perfil quando completei seis meses como paraplégica. O resultado? Dormi com dois mil seguidores e acordei com 16.000. Muitas pessoas se chocaram e compartilharam a minha história, que viralizou. Daí em diante, a página só prosperou.”

                 Além de dividir o dia a dia e receber mensagens motivacionais na plataforma, Layane se ampara no esporte para sentir-se bem e resgatar a autoestima. Pratica handebol, natação e basquete ao lado de outros cadeirantes. Faz, também, sessões frequentes de fisioterapia. Contrariando as expectativas médicas, ela crê que voltará a andar.

“Tenho muitos sonhos. Quero voltar a andar, conhecer o mundo, terminar o curso de Recursos Humanos e me tornar uma porta-voz de superação. Este é só o começo”
                 Acredita.

                 Até pouco tempo, Layane não planejava tomar nenhuma medida contra o profissional responsável por colocar o piercing. No entanto, reavaliou a postura e, agora, cogita processá-lo. 

“Eu optei por não falar sobre ele até o momento. Pensava: ‘isso não me fará voltar a andar’. Porém, venho analisando a possibilidade de mover um processo com a ajuda de um advogado. Afinal, outros clientes podem estar correndo risco e, caso ganhe, a indenização ajudará nos custos dos meus tratamentos”
                 Afirma.

                 Ela vive com a mãe, o tio e avó em uma casa em Planaltina, uma das regiões mais carentes do Distrito Federal, segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal - CODEPLAN. Atualmente, a única renda da família é a aposentadoria da anciã.


Cuidados redobrados 

                 O quadro de Layane Dias é extremo, mas sequelas um pouco menos graves, como deformidades, não são incomuns em pacientes com piercings inflamados.

                 A bacharel em direito Fernanda Lisboa, 24 anos, é uma das jovens que vivenciou o problema. Após aplicar o quinto adorno no corpo, desta vez orelha, a brasiliense sentiu a região vermelha, inchada e latejando no dia seguinte à aplicação. 

“Como estava acostumada com piercings, sabia que a reação não era normal. Tirei a joia, mas as dores não amenizaram”.

“Tomei diversos antibióticos e drenei a orelha algumas vezes, mas nada resolvia permanentemente. Até que tive que ser internada. Passei 12 dias no hospital e fiz uma cirurgia para retirada da cartilagem necrosada”
                 Conta. 

                 Os médicos acreditam que o problema, manifestado tão rapidamente, tenha sido provocado por falta de higiene por parte do profissional que realizou a perfuração.

                 À época, o episódio afetou drasticamente a autoestima de Fernanda

“Com o tempo, aprendi a lidar com a situação e, atualmente, sou muito bem resolvida com ela. Só não quero mais saber de piercings”
                 Garante, afirmando que não cogita realizar cirurgia reparadora para melhorar a estética da orelha.

                 Cícero Freitas, profissional com 35 anos de experiência em tatuagens e piercings e dono do estúdio Cicero Tattoo, dá alguns conselhos para evitar problemas com a perfuração. 

“É muito importante escolher um estúdio de confiança e que siga as regras de assepsia”
                 Aconselha.

                 De acordo com o especialista, outra dica importante é não descuidar em casa. 

“Em alguns casos, os clientes adquirem infecções pelo mal cuidado em domicílio. Por isso, é extremamente relevante atentar-se à higienização”
                 Finaliza.

                 Para quem curte o acessório, mas tem receio de furar, uma boa opção são os piercings de pressão, encontrados facilmente em joalherias e lojas de bijuteria, país afora.

                 Com Informações de: Metrópoles.

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JISOHDE FOTOGRAFIAS

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