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02 abril 2018

PIRAPORA-MG - Aluno com deficiência física sofreu bullying em escola

Momento em que a criança é constrangida pelos colegas da mesma idade foi gravado e postado em redes sociais; aluno está no quinto ano e diz que quer mudar de escola.

                Um aluno com deficiência física foi vítima de bullying durante o horário do recreio, na Escola Municipal Professora Maria Coeli Ribas Andrade e Silva, em Pirapora-MG, no Norte de Minas

                Daniel Pereira de Assis, de 10 anos, nasceu com má formação nas mãos e pernas e está no quinto ano do ensino fundamental. O momento dos xingamentos foi gravado por um colega no telefone celular da própria criança e postado nas redes sociais por uma vizinha, na Sexta-feira (180330).

                Durante a entrevista ao G1, Daniel disse que se sentiu 'machucado' quando foi cercado pelos colegas. 

“No início eu achei que era uma brincadeira, mas depois vi que não era. Meus colegas me chamaram de aleijado, gordo e bolinha de gude e eu me senti como se tivesse machucado meu coração”
                Contou na manhã desta Segunda-feira (180402), sentado no chão da sala da casa, de quatro cômodos.

                Daniel é o caçula de quatro irmãos; o mais velho tem 25 anos, a irmã, de 18 anos, tem uma filha de colo, e o terceiro irmão está com 13 anos. 

                A família mora a um quilômetro da escola onde ele estuda no turno matutino desde os quatro anos. De acordo com os pais, o fato aconteceu na Terça-feira (180427), mas a família só tomou conhecimento quando o irmão mais velho pegou o celular para 'baixar um joguinho'.


“Eu fiquei destruída; a cena dele no meio dos alunos e sendo xingado não sai da minha cabeça. A gente sabe que já aconteceram outras vezes, mas nenhuma desse jeito. Eu só soube que Daniel era assim [deficiente] quando ele nasceu, e ele sempre foi uma criança sorridente. De uns tempos pra cá ele está diferente e quando chega perto da escola reclama que não quer ir"
                Contou a dona de casa Aparecida de Assis da Luz, de 42 anos.

                A família se sustenta do benefício de um salário mínimo que a criança recebe e dos ‘bicos’ de capina do pai. 
                João Santana Pereira da Cruz, de 54 anos, foi coveiro na cidade por 8 anos, mas perdeu o emprego.

“Este menino é tudo que eu tenho. Se ele morrer, eu morro junto. A parte mais difícil de ver o vídeo é a hora que ele desce um degrau pra fugir dos colegas, já que não tem força nas pernas e mãos”
                Disse. 

                Com os serviços de capina de lotes e limpeza de covas quando é contratado pelas famílias, João Pereira recebe R$500,00.


Sonho

                Daniel escreve o nome completo sozinho. Em casa, ele usa o chão para escrever. Na escola, usa a carteira. Ele conta que gosta de assistir a desenhos e brincar com cinco carrinhos que tem. Tem o sonho de estudar para se tornar pastor de uma Igreja Evangélica.

“Eu sou uma criança feliz. Quando eu chego da escola, fico brincando. Eu gosto de ir à igreja e já sei de cor a oração do ‘Pai Nosso’. As matérias que mais gosto são matemática, português e ciências”
                Disse, enquanto fazia contas no caderno que usa na escola.

                Este é o último ano dele na escola perto de casa em função da mudança do ciclo da educação. Com o episódio, Daniel pediu para trocar de escola antes do previsto. 

“Ele já estava indo algumas vezes para a escola contra a vontade. Agora, ele me pediu e eu também penso que é melhor pra ele trocar [de escola]. Como que ele fica lá depois disso? O que eu decidir, o pai dele apoia”
                Desabafou a mãe.


Redes Sociais

                Quem postou o vídeo nas redes sociais foi a vizinha da família, Zilene Pereira da Silva. Ela disse que foi procurada pelo irmão mais velho do Daniel para ajudar. 
                Desempregada, ela tem dois filhos na mesma escola.

"É muito revoltante o que fizeram com ele e eu sei que não é a primeira vez. Eu postei nas redes sociais para que a Justiça seja feita e quem sabe alguém possa ajudá-lo e ajudar a família também, que é muito humilde. Há outros relatos de falta de atenção nessa escola e algo precisa ser feito”
                Explicou.

                O bairro periférico onde Daniel mora e estuda é o Cidade Jardim. O menino usa uma cadeira de rodas doada para ir até a escola com a ajuda de algum familiar e não tem uma professora individual na escola.


Secretaria de Educação

                Na manhã desta Segunda-feira, a secretária de Educação, a diretora da escola, a supervisora, a professora e um conselheiro tutelar se reuniram na unidade de ensino. Eles afirmam que souberam do fato pelas redes sociais durante o feriado da Páscoa e que já tomaram as primeiras medidas.

“Estamos assustados com o fato porque ninguém nos contou; nem o Daniel, família ou colegas. Fiquei sabendo do caso por aplicativo e pelas redes sociais. Quando assisti o vídeo fiquei decepcionada porque o sentido de inclusão é trabalhado diariamente na escola. 

Tivemos uma semana com conteúdo apenas de combate ao bullying e qualquer outra violência ou indiferença; chamamos, inclusive, um grupo de teatro e a patrulha escolar da Guarda Municipal. Até a capa do caderno adotado na escola trabalha a inclusão”
                Disse a diretora Mônica Chrystina Rodrigues Silva. Nos registros da escola, Daniel é envolvido em todas as atividades pedagógicas.

                A escola atende crianças da Educação Infantil ao quinto ano e tem aproximadamente 350 alunos; cerca de 200 estudam pela manhã. Além do Daniel, outras quatro crianças apresentam necessidade de acompanhamento.

“Assim que a diretora me reportou os fatos, eu a orientei a chamar o Conselho Tutelar e começar o diálogo com todos os envolvidos, porque temos de tomar as medidas educativas e de orientação às famílias. 

Estamos bastante preocupados com todas as crianças que aparecem no vídeo também. Elas foram expostas e estão sendo severamente julgadas pelas redes”
                Disse a secretária municipal de Educação Mara Bianca Santos.

                Na gravação não mostra nenhuma intervenção de profissionais da escola no momento dos xingamentos em direção ao Daniel

                Questionada, a escola disse que há funcionários que acompanham o recreio, mas que é comum brincadeiras de correr e o barulho, apesar de serem orientados. Ela disse que irá reforçar a supervisão durante o recreio. O intervalo da sala do Daniel acontece das 9:15 horas às 9:30 horas, juntamente com as outras turmas da mesma idade.


Investigação

                O Conselho Tutelar informou que irá registrar dois boletins de ocorrência e que o caso será investigado pela Polícia Civil, com o conhecimento do Ministério Público.

“Faremos um B.O. para resguardar o direito do Daniel de estudar e não ser submetido a qualquer vexame. Nesse sentindo, vamos apurar se houve negligência. Mas também faremos um registro para investigar em quais circunstâncias o vídeo foi gravado, publicado e viralizado, já que toda criança tem direito de ser preservada e elas não poderiam ser expostas” 
                Explicou o conselheiro por dois mandatos Gilson Barbosa.

                Até esta publicação, o conselheiro não havia ido à casa do aluno vítima dos xingamentos. Gilson informou ainda que a criança será amparada por profissionais multidisciplinares. 

“Ouvimos a direção e professores. Vamos ouvir também os pais dos alunos que aparecem no vídeo que vieram até a escola. Em seguida, vamos até a casa do Daniel para ouvir a criança e a família. Queremos ouvir a vizinha também”
                Detalhou.

                O Conselho Tutelar informou que nunca recebeu denúncia sobre casos de bullying na Escola Municipal Professora Maria Coeli Ribas Andrade e Silva.


                Com Informações de: G1.

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JISOHDE FOTOGRAFIAS

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