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18 janeiro 2020

TEÓFILO OTONI-MG - Detentos trabalham na produção de uniformes para uso do sistema prisional

Pioneira na manufatura de roupas para presos do Estado, penitenciária produz 6.000 peças por mês há cerca de 25 anos; iniciativa gera economia aos cofres públicos
               Os uniformes vermelhos utilizados por detentos em todo o Estado de Minas Gerais têm sua origem no próprio sistema prisional: as roupas são produzidas por presos em fábricas instaladas dentro de dez unidades. Além de ser uma ferramenta de ressocialização, ao garantir trabalho aos detentos, a iniciativa também gera economia aos cofres do Estado, que deixa de gastar com a aquisição externa dos uniformes.

               A pioneira dessa produção é a Penitenciária de Teófilo Otoni-MG, no Vale do Mucuri, de onde saem a maior parte das calças que abastecem todo o sistema prisional. De segunda a Sexta-feira, das 08:00 às 16:00 horas, 24 presos modelam, cortam e costuram as peças. Depois de pronto, o material é então encaminhado para a Região Metropolitana de Belo Horizonte, de onde é distribuído para todo o Estado. São 26 máquinas alocadas em um espaço de 187 m², produzindo uma média de 6.000 itens mensalmente.

               A oficina da Penitenciária de Teófilo Otoni existe desde 1995, e é a mais antiga confecção para usufruto do Estado. A penitenciária funciona em uma antiga fazenda, inaugurada em 1984 nos moldes de uma colônia agrícola. 

               A ideia da produção das roupas partiu de um servidor que é alfaiate e vem de uma família ligada ao ofício. Na época, não existiam uniformes para presos, o que causava certo transtorno, já que dificultava a identificação dos mesmos. 

“O uniforme padroniza e cria uma identidade quando todos estão iguais”
               Diz Vicente de Paula Rosa da Silva, o policial penal por trás do projeto.


               Vicente conta que quando começou a trabalhar na unidade prisional viu essa necessidade. Ele então conversou com o diretor, explicando que, com material e máquinas, seria possível criar uma fábrica, sendo que ele próprio ensinaria os presos a costurar. 

“O secretário da época autorizou a compra de maquinário e mais de 500 metros de pano azul royal. Fizemos uniforme para todos os presos e mandamos as fotos para a Secretaria, que gostou da ideia e ordenou que a produção se expandisse para todo o Estado”
               Lembra.

               A cor vermelha, atual tonalidade dos uniformes, também surgiu na Penitenciária de Teófilo Otoni-MG. Por estar localizada em uma área rural, com muita vegetação no entorno, o azul às vezes se confundia com o verde do mato, enquanto o vermelho propiciava um contraste mais forte.

               Há 38 anos no local, Vicente já se aposentou, mas retornou ao trabalho. Nestes 25 anos comandando a confecção, ele estima que mais de 10.000 presos aprenderam a costurar. 

               Além de ensinar como fazer os moldes, cortar, costurar e utilizar as máquinas, o servidor também é responsável pela manutenção dos equipamentos e foi quem auxiliou a instalação de confecções de uniforme em outras unidades prisionais do Estado, nos anos 1990.

“O trabalho, em qualquer área, é uma terapia ocupacional para quem gosta. As pessoas mudam sistematicamente, e essa mudança é perceptível pela expressão facial do recluso”
               Afirma Vicente

“Costumo dizer que todos nós somos produtos do meio em que vivemos, e grande parte dos sentenciados não tiveram sequer uma oportunidade. Por isso a importância dessa produção. De lá, temos uma chance valiosa para mostrá-los o outro lado da moeda”.

Produção interna

               Atualmente, a fábrica de Teófilo Otoni só produz calças masculinas. A produção de uniformes é feita em mais outras nove unidades prisionais espalhadas pelo Estado. 

               Lençóis, camisas, bermudas, calças, chinelos e também vassouras e rodos são produzidos por presos. Aproximadamente 40.000 peças saem das fábricas todos os meses. 

               A produção se divide da seguinte forma:

                Penitenciária de Formiga-MG - Camisas;

                Penitenciária Francisco Floriano de Paula, em Governador Valadares-MG - Bermudas;

                Presídio de Itajubá-MGCamisas;

                Presídio de Caxambu-MG - Camisas, calças e bermudas femininas;

                Presídio de Eugenópolis-MG - Lençóis;

                Penitenciária de Teófilo Otoni-MG - Calças;

                Presídio de Floramar, em Divinópolis-MG - Lençóis;

                Presídio Professor Jacy de Assis, em Uberlândia-MG - Calças e bermudas;

                Penitenciária Doutor Manoel Martins Lisboa Júnior, em Muriaé-MG - Chinelos, rodos e vassouras;

 Penitenciária Dênio Moreira de Carvalho, em Ipaba-MG - Bermudas.

               Duas unidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a Penitenciária Professor Jason Soares Albergaria, em São Joaquim de Bicas-MG, e a Penitenciária José Abranches Gonçalves, em Ribeirão das Neves-MG, também entraram para a lista de fabricações ainda neste ano.


               A Diretoria de Trabalho e Produção - DTP, setor responsável por coordenar a manufatura de uniformes do Departamento Penitenciário de Minas Gerais - Depen-MG, está em tratativas para levar novas confecções para duas unidades com localização estratégica, o que facilitaria a distribuição: a Penitenciária Agostinho de Oliveira Junior, em Unaí-MG, e o Presídio Regional de Montes Claros-MG
               Entre os planos da DTP também está o início da produção de tamanhos especiais.

Ressocialização

               Mais de 35 anos depois, a Penitenciária de Teófilo Otoni ainda preserva sua estrutura de fazenda. Em suas dependências, há um pomar e um curral, onde 12 presos trabalham. Há também uma fábrica de bloquetes do lado externo, com 10 detentos envolvidos na atividade.


               Dentro da unidade prisional, 31 presos laboram na horta e no jardim; outros 47 estão divididos na limpeza, entrega de marmitas, barbearia, reciclagem, manutenção, entre outros serviços gerais; 57 fazem artesanatos na cela e cinco trabalham na cozinha. Uma escola estadual também está instalada na penitenciária, com 151 alunos inscritos.

               Patrício Rocha de Souza, de 35 anos, cumpre pena na unidade há cinco anos e atualmente trabalha na lavanderia. Para ele, o ofício muda sua rotina. 

“É uma oportunidade de manter a minha mente ocupada, aprendendo uma profissão que pode ser usada no futuro”
               Diz. 

“O trabalho me mostrou como é gratificante poder fazer parte de algo no qual sou importante, e espero em breve estar trabalhando lá fora para poder ajudar minha família com dignidade e de cabeça erguida”.

               POR: Fernanda de Paula.
               FOTOS: Carlos Alberto Pereira.

               Com Informações de: SEAP-MG.

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