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26 janeiro 2020

BELO HORIZONTE-MG - Encontrado último corpo dos sete mortos em soterramento no Barreiro

Na sexta-feira, dia de recorde histórico de índice de chuva, um barranco cedeu e soterrou pelo menos cinco casas, na Vila Bernadete.


               A cozinheira que trabalhava em um asilo, o jovem que havia acabado de tirar carteira de motorista, a adolescente que iria se formar, o pai que não conseguiu batizar a filha. 
               Histórias e sonhos de família enterrados na lama, em Belo Horizonte-MG

               Depois de mais de 40 horas, foram encerradas na manhã deste Domingo as buscas pelas sete vítimas soterradas no desabamento de casas na Vila Bernadete, no Barreiro, durante o temporal da última Sexta-feira.

               Cinco corpos foram localizados pela manhã e dois haviam sido encontrados no Sábado, numa operação que usou técnicas semelhantes às empregadas no rompimento da Barragem da Vale, em Brumadinho-MG, na Região Metropolitana de Belo Horizonte
               As sete pessoas pertenciam a duas famílias.

               O corpo do pequeno João Lucas, de 3 anos, foi o primeiro a ser localizado nos escombros neste Domingo pelo Corpo de Bombeiros - COBOM, que pouco depois achou o pai dele, Thiago Rodrigo da Silva, de 26 anos, e a mãe, Kellen Santos Oliveira, de 25 anos. Thiago retornou para casa para tentar salvar o filho, mas não conseguiu sair dos escombros, surpreendido por um outro deslizamento.

"O menino estava no quarto, não tinha como sair. Thiago voltou, mas não deu tempo"
               Conta o tio dele, Carlos Roberto da Silva, de 55 anos. 

               A única a sobreviver na casa foi a pequena Maria Eduarda, de 7 anos, filha de Kellen. Ela ficou a salvo graças a Senhor do Conselho Gomes, de 57 anos, pai de Thiago, que tirou a menina da sala da casa. 
               A menina foi levada para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII.

               A família morava em um barracão no fundo da casa de Senhor. O imóvel, também abalado pelo deslizamento de terra, resistiu à descida da lama e das casas que ficavam acima. Segundo o tenente-coronel Eduardo Ângelo, que acompanhou a reportagem na “zona quente” das buscas, todos os corpos foram encontrados próximos a esse local, que serviu de barreira para os escombros.

               No Domingo, 28 bombeiros trabalhavam no resgate. A área era de alto risco porque uma casa ameaçava cair. O que se via era um rastro de destruição. Sofá dependurado, paredes destroçadas, roupas, sapatos, tudo destruído pelo barro. 
               Chamava atenção a quantidade de fios elétricos.

               Nesse local, lavado pela lama, também foram resgatados os corpos da cozinheira Marlene do Carmo Silva, de 58 anos, e de sua filha Edvânia Rodrigues Silva, de 17 anos. Os outros dois filhos dela, Edmar Rodrigues Silva, de 25 anos, e Luiz Augusto Rodrigues Silva, de 19 anos, foram encontrados no Sábado. A família de Marlene, que deixa outros três filhos, é de Frei Gaspar, no Vale do Mucuri
               Parentes acompanhavam as buscas.

               Vítima tentou ligar para a Defesa Civil, Um dos filho de Marlene, Gilberto do Carmo Silva, de 41 anos, contou que a mãe estava assustada como terreno da vizinha cedendo e tentou ligar para a Defesa Civil
“Ninguém veio”, disse.

               Ela era cozinheira de um asilo no Bairro Olhos D'Água, na Região Oeste, e morava com os três filhos. Edvânia estava fazendo curso de computação, Luiz tinha acabado de tirar carteira de motorista. Edmar tinha programado de marcar neste Domingo o batizado do filho, de 2 anos.

               Na noite da Sexta-feira, dia de recorde histórico de índice de chuva, um barranco cedeu e soterrou pelo menos cinco casas, na Vila Bernadete. Três casas ficaram completamente destruídas e outras duas parcialmente foram danificadas.

               Vários moradores da Vila Bernadete contaram que, assim como Marlene, tentaram ligar para a Defesa Civil desde a madrugada de Sexta-feira, avisando sobre uma escavação no quintal de uma casa que estava jorrando água e desmoronando. Somente a Polícia Militar - PM foi ao local, às 12:30 horas e aconselhou a saída. 
               Às 21:00 horas, as casas desceram junto com o barranco.

               As buscas por sobreviventes começaram apenas na manhã de Sábado, quase 12 horas depois. Segundo os Bombeiros, o local oferecia risco às equipes, por causa da chuva e dos choques da rede elétrica. 
               Dois policiais militares ficaram presos nos escombros.

               A população ficou revoltada com a demora e neste Domingo ainda cobrava respostas. 

“Nós fomos tentar resgatar e a PM barrou”
               Disse Warley Pablo, de 26 anos, morador da Vila Bernadete

“Isso aqui daqui a pouco todo mundo esquece e depois acontece em outro lugar”
               Afirmou.

               Defesa Civil priorizou outras ocorrências O prefeito Alexandre Kalil, que visitou o local na manhã de ontem, disse que o telefone da Defesa Civil estragou na tarde de Sexta-feira, quando o órgão público recebeu mais de 500 chamadas relacionadas à chuva, considerada a mais intensa já registrada em BH no período de 24 horas.

               O prefeito não soube precisar por quanto tempo o telefone da prefeitura ficou indisponível. A Defesa Civil informou que o local não era considerado área de risco e que soube da ocorrência pela Regional Barreiro, mas que priorizou outros atendimentos.

               Kalil classificou o episódio como um “desastre natural” e informou que a força-tarefa da chuva vai continuar por tempo indeterminado, até a reconstrução da cidade.

               Vila não era área de risco. É a primeira vez que os moradores da Vila Bernadete assistem a uma tragédia relacionada a deslizamentos. Situada numa área de encosta próxima ao Anel Rodoviário, no Barreiro, a vila foi urbanizada há pouco mais de 10 anos, quando chegou o asfalto na região.

               Em 2002, a área, que pertencia ao Bairro Bonsucesso, passou a ser considerada vila. Nascida e criada na comunidade, Vanessa Aparecida, de 43 anos, conta que o local era só mato.

“Tinha uma água que corria no meio das casas. O pessoal foi construindo e essa água espalhou”
               Diz. 

               Irmão dela, Valdinei Alves, de 53 anos, conta que a casa da família foi a primeira, erguida num terreno de propriedade de família tradicional de BH

“Os donos reviraram a terra para ninguém construir, mas o pessoal foi chegando e depois virou um aglomerado”
               Lembra.


               Com Informações de: EM.

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JISOHDE FOTOGRAFIAS

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