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14 agosto 2016

POÇOS DE CALDAS-MG - Café perde espaço para chimarrão e cai no gosto de moradores

Moradores confessam que substituíram café pelo chimarrão.
Bebida à base de erva-mate já é consumida até em praça da cidade.


              Não é surpresa para ninguém que uma das bebidas mais consumidas no Sul de Minas é o café. Mas, em Poços de Caldas-MG, uma outra bebida quente começa a ganhar espaço entre os moradores. 

              Muito apreciada no Sul do Brasil, o chimarrão, bebida à base de erva-mate, tem caído cada vez mais no gosto de moradores e algumas pessoas já até o consomem no lugar do café.

              É o caso do casal Kemely e André
              Juntos há 14 anos, os dois já elegeram o chimarrão como a bebida quente oficial da casa deles.

“Aqui na nossa casa, o café não tem vez”
              Confirma a empresária Kemely Carvalho Colombo Ortelan.

              Casada com o gerente financeiro André Matheus Ortelan, a empresária conta que a bebida quente que prevalece na casa deles é o mate. 

“Desde que nos casamos [há quatro anos], 
nunca fizemos café aqui em casa. 
Até tínhamos um pacote guardado, mas já jogamos fora. 

Eu prefiro os chás e, claro, o chimarrão, 
que aprendi a tomar com o meu marido, 
quando ainda éramos namorados. 
Acho que já faz uns 10 anos 
que a gente mateia juntos”

              Tanto ela, como o marido, são nascidos e crescidos em Poços, entretanto o primeiro contato com o chimarrão deu-se no Sul do país. 

“Com uns 12 anos eu viajei pra Santa Catarina com a minha família. Foi lá que experimentei pela primeira vez”
              Conta o marido.

              O tempo passou e a bebida quente, à base da infusão da erva-mate, ficou arquivada nas memórias da infância do gerente financeiro. Até que em 2002, o chimarrão entrou de vez na vida dele. 

“A lembrança mais forte que eu tenho 
foi na final da Copa do Mundo. 
Naquele ano o Brasil ganhou da Alemanha por 2 a 0. 

Bebi cerveja a noite toda, 
mas na hora do jogo passei a tomar chimarrão. 
Desde então, o mate tornou-se indispensável”.

              Os dois contam que a bebida é consumida principalmente aos finais de semana, quando o casal se junta na sala da casa para assistir a algum filme ou apenas para conversar. 

“Eu tomo muito na sexta à noite e no sábado. 
É um momento em que a gente senta pra conversar. 
O chimarrão acalma, tranquiliza e, 
de certa forma, dá certa paz”
              Diz André.
Mateando na praça
              O chimarrão ou mate é uma bebida característica da cultura do sul da América do Sul, um hábito legado pelas culturas indígenas: quíchua, aymará e guarani

              Ainda hoje é hábito fortemente arraigado no Brasil [Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul (principalmente), Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (Pantanal) e Rondônia], parte da Bolívia e Chile e em todo o Paraguai, Uruguai e Argentina.

              O último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE feito em 2014, apontou a concentração da produção de erva-mate em quatro estados brasileiros. Os dados mostraram que 0,4% da produção está encontrada em Mato Grosso, seguida pelo estado de Santa Catarina com 16,4%, Paraná com 37,4%, e o Rio Grande do Sul segue como maior produtor de mate do país, com 45,8%

              Ao todo os quatro estados produziram em 2014, em torno de 602.484 toneladas do produto.

              É costume para muitas pessoas que moram no Sul do país o consumo da bebida no finalzinho da tarde. Na aula ou no trabalho, em casa ou no parque, sozinho ou entre amigos. 
              Tradição que já está na rotina do produtor cultural e arquiteto Ricardo Malabi, que nasceu em Varginha-MG, mas adotou Poços de Caldas como residência.

              Despretensiosamente, o arquiteto acomoda o mate dentro da cuia de origem Uruguaia e acrescenta a água quente, que ele carrega em uma garrafa térmica. 
              Depois ajeita a bomba (uma espécie de canudo de alumínio) dentro do recipiente e serve-se da bebida, que conheceu através da influência de um grupo de gaúchos.

“Foi em 1999, quando eu tive contato com alguns gaúchos que, assim como eu, estudavam arquitetura. 

Estávamos em Curitiba, no inverno, muito frio. 

Por afinidade com esse grupo de gaúchos que estavam numa tertúlia de chimarrão, acabei sendo apresentado ao mate. 

Inicialmente, achei um pouco fora do padrão do que eu estava acostumado quando se tratava de chá, mas me identifiquei muito e tomo até hoje”.

              Enquanto o produtor cultural degusta calmamente o mate sentado em um banco de praça, ele conta que sente falta de mais apreciadores pela cidade. 
              Segundo ele, beber o chimarrão em público ainda não é tão comum.


“Naturalmente, como sul-mineiro tradicional, eu tomo e adoro café. Mas eu não dispenso o chimarrão. 

Pena que por aqui não é tão comum ver pessoas mateando pelas ruas. Uma ou outra vez eu já até fui parado na rua por pessoas interessadas em beber o chimarrão que eu levava comigo”.

              Segundo ele, muita gente ainda tem preconceito. 

“Ah, tem muita gente que acha que é uma droga ou que tem nojo de dividir a mesma bebida, porque a bomba usada não é como um canudinho que a gente troca.
 
Todo mundo tem que dividir a mesma bomba. 
Seria muito legal que mais pessoas que gostam de chimarrão tomassem em locais públicos, assim daria pra se formar tertúlias, onde a conversa rolaria solta”
              Explica.

Chimarrão e café
              Em terras mineiras onde o café é rei, há ainda quem consiga encontrar espaço para as duas bebidas. 

              Apaixonado por café, Lucas Tomaz Blascke, de 36 anos, confessa que também é adepto do chimarrão. 
              O interesse pela bebida à base de erva-mate ele herdou da família, que em parte é gaúcha.

              Blascke que mora aos pés da Serra de São Domingos-MG diz que o mate é uma ótima forma de esquentar o corpo nos dias frios. 
              Mesmo assim, ele não dispensa a bebida nos dias quentes.

"Eu gosto de matear todas as noites, principalmente em dias de inverno. Mas, não dispenso um chimarrão em dias dos jogos do meu time, o Internacional"
              Conta.

              Segundo o analista de tecnologia de informação, o difícil é encontrar erva-mate na cidade. 

"A principal dificuldade é encontrar mate de qualidade aqui na cidade. 
Normalmente compro diretamente do Sul".

              Mas será que o consumo realmente faz bem? 
              A resposta ainda divide especialistas, que reconhecem propriedades medicinais no consumo do chá, mas também alertam para outros riscos que a ingestão em excesso pode provocar. 

              Por isso, é sempre importante ter cuidado e pensar na saúde. Para quem não vive sem, é preciso seguir alguns conselhos para evitar ter de largar de mão o companheiro de todos os dias.

Matear faz bem
              Segundo a nutricionista Izabela Moraes Gondim, o chimarrão possui muitos benefícios e contém quase todas as vitaminas necessárias ao organismo: B1, B2, B6, C, E e D, além de sais minerais como ferro, fósforo, potássio e manganês.

“A erva-mate usada para o chimarrão,
é um estimulante, tanto mental quanto muscular. 
Por isso, muitas pessoas trocam o café pelo amargo. 

O mate ainda é rica em estimulantes e funciona tão bem quanto o café ou o chá verde, o que é indicado para quem quer reduzir ou até manter peso. 

Além disso, segundo a nutricionista, o chimarrão traz mais disposição e é bom aliado pré ou pós-treino. 

Outra coisa interessante é que o chimarrão é extremamente diurético, o que ajuda a eliminar as toxinas corporais. 

A bebida é um potente antioxidante. 
Além disso, auxilia na redução do colesterol ruim”
              Explica a nutricionista.

              Para a especialista, não há uma quantidade ideal indicada, mas ela lembra que estudos que observaram que o consumo de um a dois litros por dia não evidenciaram problemas.


              Mesmo com a lista de benefícios, a nutricionista dá um alerta para as contraindicações. 
              Há quem precise evitar ou limitar o consumo do chimarrão. Um fator importante é que o chimarrão não hidrata e não substitui a água. 

              Ainda de acordo com a nutricionista, não é recomendado que o consumo seja durante as principais refeições.
“No momento da principal refeição, temos vários nutrientes na composição de um prato, então, se você ingerir a bebida enquanto almoça ou janta, tende a diminuir a absorção do ferro, porque a cafeína presente no mate se adere ao ferro e não deixa o corpo absorver os nutrientes. 
Quem tem muita insônia também deve evitar 
o consumo no período da noite”.

              Izabela reforça ainda que a bebida deve ser evitada por hipertensos e por pessoas que são sensíveis a algum dos componentes da erva-mate. 

Além disso, beber em excesso também pode causar queda da taxa de glicose. 
              Outro cuidado importante é com relação à temperatura da água. 
              Temperatura muito elevada pode lesionar as papilas gustativas da língua, causando perda parcial do paladar.

“A temperatura da água não pode passar de 65°C, para que não cause queimaduras e, também, para que todas as propriedades oxidantes sejam mantidas”
              Finaliza a nutricionista.

              Com Informações de: G1.

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