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04 abril 2020

DISTRITO FEDERAL - Falta de água e casa cheia: a quarentena nas periferias

G1 reúne dados das regiões de baixa renda na capital. Moradores contam desafios em tempos de pandemia de coronavírus.



                A pandemia de Coronavírus esvaziou, pela primeira vez, a sala de aula de Margarida Minervina da Silva, que desde 2006 abriga jovens com dificuldade no aprendizado em uma associação no Sol Nascente-DF, maior região de baixa renda no Distrito Federal

                O local se transformou em refúgio para os pais, que pedem ajuda com cestas básicas e dinheiro para passagem no transporte público.

                A Associação Despertar Sabedoria, da educadora social Margarida, de 47 anos, é um recorte da população mais vulnerável da capital do país. Os problemas de estrutura da região, relatados por ela ao G1, refletem o que mostram também os dados de saneamento básico e renda do Distrito Federal.

“São 70 famílias na associação, com muitas crianças. Às vezes, os filhos e os netos são criados por senhoras de 40 a 50 anos, ou têm pais usuários de drogas."


                Desde a última semana de Março, quando começaram os impactos das medidas de isolamento social, a associação comandada por Margarida, no Sol Nascente, arrecadou 150 cestas por meio de campanhas. 
                Contudo, a educadora conta que “não foi suficiente”.

“Não supriu a demanda. 
Porque eles já não tinham quase nada em casa”.

                Segundo Margarida, o desafio vai além das estruturas físicas de “lotes com três a cinco barracos” e atinge também a falta de informação.

"Nós temos que explicar que é necessário ficar em casa. 
Muitos não acreditam."


Aglomerados

                O mais recente levantamento do perfil da população do Distrito Federal, a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - PDAD 2018, da Companhia de Planejamento do Distrito Federal - CODEPLAN, aponta seis regiões administrativas no grupo de baixa renda. 
                Juntas, elas somam uma população estimada de 326.955 habitantes.

                Se somadas à população do Sol Nascente de 91.066 moradores, segundo a CODEPLAN, o grupo de baixa renda do Distrito Federal chega a 418.021 pessoas.

                Enquanto a média de acesso à água tratada no Distrito Federal é de 98,6%, nas regiões mais pobres o percentual cai para 68% em alguns locais.

                Em algumas casas, a água não sai das torneiras, mas fica disponível em pontos de coleta, onde os moradores enchem galões.

                As comunidades também apresentam maior necessidade de captar água da chuva.

                Ainda sobre as características de exposição à aglomeração, no grupo de baixa renda, 57% usam principalmente ônibus para ir ao trabalho. 
                A média no Distrito Federal como um todo é de 38,2%.


Idosos de baixa renda

                De acordo com dados da CODEPLAN, divulgados no ano passado, 30,6% dos idosos nas regiões de baixa renda não possuem emprego e não estão aposentados. A renda média dessa população na PNAD 2018 era de R$502,00, enquanto o salário mínimo naquele ano era de R$954,00.

                Sobre o acesso à saúde, 13,7% dos idosos de baixa renda possuem plano de saúde. Nas regiões de maior poder aquisitivo, 87,9% pagam um convênio particular, aponta a CODEPLAN.

Coronavírus na periferia

                Até a última atualização desta reportagem, a Secretaria de Saúde não registrou casos de Coronavírus nas comunidades mais vulneráveis. Em coletiva de imprensa nesta Sexta-feira (200403), dirigentes informaram ao G1 que as regiões terão "consultas na rua" e medidas específicas serão adotadas quando houver registros dos casos.

                Para a especialista Eliana Bicudo, da Sociedade Brasileira de Infectologia, não é possível afirmar que não há Coronavírus nas regiões de baixa renda, embora os dados não apareçam nos Boletins da Secretaria de Saúde.

“Se a transmissão já não está acontecendo, pode ser só pela questão da população não estar sendo testada."

                A infectologista explica que, sem saneamento básico, a rotina desses moradores de Brasília-DF não segue o recomendado.

"Uma faxineira, por exemplo, vai para uma residência sem saber se há infectados. Quando ela volta para casa, o certo seria tomar banho, guardar a roupa em um saco plástico e depois lavar bem. Como fazer isso sem água?"

                A especialista destaca que, até o momento, o esgoto a céu aberto não é uma ameaça ao Coronavírus

"A transmissão que temos o conhecimento é aérea, ou seja, por gotículas como espirros e tosse"
                Ainda assim, alerta: 

"é recomendado lavar as mãos com frequência".


Casos de Covid-19 em Brasília

                Até esta Sexta-feira (200403), a região com maior incidência do Coronavírus por 100.000 habitantes, em Brasília, era o Lago Sul-DF. No local, as moradias têm, em média, 13 cômodos, 5 quartos e 4 banheiros, segundo a PNAD 2018
                Já nas regiões de baixa renda, a média é de 5 cômodos, 2 quartos e 1 banheiro.

                Segundo a infectologista Eliana Bicudo, uma das estratégias do governo para prevenir a disseminação do vírus entre a população que vive nas regiões mais pobres, é tirar as pessoas de risco do ambiente aglomerado.

"Nessa população mais humilde, em que o ambiente domiciliar é um cômodo, dividindo tudo, o Estado vai ter que tirar a pessoa infectada ou idoso que ainda não se contaminou e levar para um lugar seguro."

                O Distrito Federal tem cerca de 500 respiradores em UTI; e o governo pretende chegar a 1.300.

                Em entrevista nesta Sexta-feira, o G1 questionou a Secretaria de Saúde sobre a estratégia de isolar essas pessoas. O subsecretário de Vigilância em Saúde Eduardo Hage, não descartou a possibilidade.

"No atual momento, não há necessidade de usar essa estratégia. Mas, caso haja um aumento mais acentuado, não agora, de imediato, podem sim ser adotadas novas estratégias"
                Disse.

"De acordo com o acionamento de cada fase da pandemia, novas medidas poderão ser adotadas."

O que diz o GDF sobre o Coronavírus na periferia?

                O subsecretário de Assistência em Saúde Ricardo Tavares, informou que a Secretaria de Desenvolvimento Social do Distrito Federal tem "pedido pareceres técnicos para que a Secretaria de Saúde tome medidas".

"Nós temos consultórios de rua, que nós chamamos, que são consultórios volantes, que vão até as pessoas."

                Em nota, a Secretaria de Saúde informou que, até o momento, "não houve qualquer modificação no atendimento" nessas regiões, e que "as unidades de saúde continuam à disposição".

                Com Informações de: G1.

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