Entre os anos de 1993 a 2003, as quatro taças do torneio elevaram o patamar da Raposa no Brasil; Roberto Gaúcho, Ricardinho e Nonato, ídolos do clube, destacam a importância do título a virada dos anos 80 para os anos 90, o Cruzeiro vivia um momento curioso no cenário nacional do futebol.
Apesar de já ter uma Libertadores no currículo (de 1976), a Raposa ainda não havia vencido o Brasileirão - que teve início em 1971 e ainda não era unificado - e era vista com certa desconfiança por alguns. O time era menos temido fora de Minas Gerais, menos observado pela imprensa e menos badalado. Roberto Gaúcho, um dos ídolos do Cruzeiro e autor de gols decisivos nos títulos de 1993 e 1996 da Copa do Brasil, confirma.
"Eu cheguei ao Cruzeiro em 92. O Cruzeiro não tinha vencido todos os títulos que tem hoje. Eu estava no Vasco, fui para o Guarani, eu nem queria muito ir para o Cruzeiro. Não era muito falado".
Foi a partir daí que tudo mudou. A década de 90 foi incrível para o clube, assim como o início dos anos 2000. No período entre 1993 e 2003, o Cruzeiro levantou incríveis quatro taças da Copa do Brasil, deixou para trás rivais fortes no cenário nacional e se consolidou definitivamente como uma das grandes forças do futebol brasileiro. O próprio Roberto Gaúcho, um dos protagonistas da transformação de grandeza do clube, dá o testemunho.
Em 93 nós ganhamos (a Copa do Brasil), já deu uma alavancada. A gente sentia, quando jogou o Brasileiro, que já era mais respeitado, principalmente no Rio e em São Paulo. Depois que ganhou a de 96 em cima do Palmeiras, quando ninguém esperava, porque era quase a Seleção, aí sim começaram a respeitar o Cruzeiro ainda mais, como time grande, como time "top" do Brasil, um dos cinco maiores. Aí veio a Libertadores de 97, aí o Cruzeiro ganhou mais uma (Copa do Brasil) em 2000, em cima do São Paulo, depois outra em 2003. Aí o Cruzeiro ficou maior.
Em 10 anos, foram quatro títulos da Copa do Brasil. É algo que só time grande consegue, só time que tem elenco, estrutura. Por isso o Cruzeiro chegou onde chegou, por isso é tão respeitado hoje.
Se as duas primeiras conquistas vieram para isolar a desconfiança nacional, as duas seguintes (2000 e 2003) vieram para consolidar o Cruzeiro no cenário dos grandes clubes brasileiros.
Depois de 2003, não tem como. Hoje em dia o Cruzeiro é muito respeitado em qualquer lugar. Onde eu moro, no Sul, os gremistas e colorados "se cagam" de medo da camisa do Cruzeiro. No Rio, onde vou muito, o Cruzeiro também é muito respeitado. É um dos times que mais ganharam títulos a partir de 1990. A imprensa também começou a olhar com outros olhos, melhorou muito.
O Cruzeiro, na minha opinião, com essa torcida, está entre os três ou cinco maiores times do Brasil. Não perde para Flamengo, Corinthians, Palmeiras, Grêmio, Internacional, ninguém.
O Cruzeiro está no topo - completou Roberto Gaúcho.
Existia, até 2003, uma pressão pela conquista do Brasileirão, mas o Cruzeiro "compensava" com os títulos da Copa do Brasil. Como duvidar de uma equipe que, em 10 anos, levantou quatro taças de um torneio concorrido e com os melhores clubes do país? Ricardinho, o "mosquitinho azul", venceu três dos quatro títulos, e comenta a importância deles na projeção do clube. Assim como Roberto Gaúcho, ele também destacou a conquista de 1996, sobre o Palmeiras, que tinha um time com Cafu, Rivaldo, Djalminha, Luizão e vários outros craques.
"Naquela época, a necessidade de ganhar o Brasileiro era muito grande. Cada um se sentia pressionado, de forma natural, para ganhar o Brasileiro, mas a Copa do Brasil dava o respeito da mesma forma. Todos os times participavam, era muito difícil. Não tinha isso de revezar jogadores, os times eram os titulares. Os times eram muito fortes. Foi o período que o Brasil ganhou duas Copas do Mundo, 94 e 2002. Vários times tinham jogadores na Seleção, os camisas 10 eram muito bons, foi um período muito bacana. Você conseguindo ganhar, dava uma projeção muito grande, mesmo não tendo o Brasileiro. Só pela Copa do Brasil, conseguimos chegar na elite. O Cruzeiro mudou radicalmente. Quando a gente estava disputando a Copa do Brasil de 2000, o Brasil já olhava de outro jeito. A imprensa fora de Minas, por exemplo, lidava totalmente diferente. O Cruzeiro conquistou aquela Copa do Brasil de 96, em 98 foi para a final novamente. Perdeu, mas em 2000 ganhou de novo. O Cruzeiro já estava, ali, na elite do futebol brasileiro, com certeza. O patamar era outro.
Na Seleção
Ricardinho, pelo excelente futebol demonstrado no Cruzeiro, teve chances na Seleção. Até nas convocações para vestir a amarelinha ele vê a diferença entre os dois momentos do Cruzeiro.
"Quando você era convocado para a Seleção Brasileira nesse período, vinham jogadores do Barcelona, do exterior, Ronaldo, Ronaldinho. Às vezes você era convocado no Cruzeiro, era diferente. Quando fui em 96, jogar no Cruzeiro era visto de uma forma. Quando fui convocado lá para 2000, era totalmente diferente. Era mais procurado pela imprensa, tudo. Em 96, você tinha que ser algo extraordinário para ser convocado jogando no Cruzeiro. Em 2000 não, já era algo normal, o Cruzeiro já tinha vários jogadores sendo convocados para a Seleção".
Copeiro
Outro protagonista nas conquistas do Cruzeiro da Copa do Brasil foi Nonato. O ex-lateral esquerdo foi um dos pilares do time de 1993 e 1996, quando levantou as duas primeiras taças. Ele destaca outro fator importante, o respeito adquirido pela Raposa, com os adversários, quando o assunto é mata-mata. Tanto no cenário nacional, quanto no internacional, o time provou, muitas vezes, que sabe jogar esse tipo de torneio.
A nível internacional, a gente começou a ganhar respeito em 91 e 92, quando ganhamos o bi da Supercopa.
Já faziam muitos anos do título da Libertadores, e aí o Cruzeiro voltou para o cenário internacional.
No cenário nacional, foi com essas conquistas da Copa do Brasil.
Ganhamos em 93, depois ganhamos em 96 em cima do Palmeiras, que era uma Seleção.
Aquilo ali deu uma moral enorme para o Cruzeiro a nível nacional, todos os times passaram a respeitar mais o time do Cruzeiro.
Depois veio 2000 e 2003 para confirmar isso.
Os caras já pensavam duas vezes antes de enfrentar o Cruzeiro.
Já sabiam que era um time acostumado ao mata-mata.
Em 93 passamos por grandes clubes.
Em 96 eliminamos Corinthians, vários times grandes.
Eles começaram a compreender que o Cruzeiro sabia jogar esse tipo de competição.
O Flamengo deve vir (agora, para a final de 2017) jogar em Belo Horizonte sabendo que o Cruzeiro é acostumado a esse tipo de competição.
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