Vítima conseguiu pedir socorro a amigos e foi resgatada em dezembro pela polícia. Líder religiosa é suspeita de manter fiel em cárcere privado.
Resgatada pela Polícia Civil em Dezembro do ano passado, Renata (* nome fictício), de 18 anos, ainda sente medo ao relembrar como foi viver, por quatro meses, trancada em uma casa. O cativeiro fica em uma chácara no Gama-DF, a 31 km do Centro de Brasília-DF.
No local, funciona a sede da Igreja Adventista Remanescentes de Laodiceia. A jovem foi levada para lá pela mãe aos 12 anos mas, ao atingir a maioridade, foi impedida de estudar e de sair de casa.
"Antes, morava com minha mãe, estudava, ia para escola e participava dos cultos"
Contou a vítima ao G1 nesta Sexta-feira (190111).
"Ficou ruim quando, uma vez, meu pai foi me buscar e eu não pude ir".
"Eu não tinha celular e quando saia, era sempre acompanhada por alguém."
O imóvel onde a jovem foi encontrada pertence à líder religiosa da seita, Ana Vindoura Dias Luz. A mulher de 64 anos chegou a ser detida por manter a vítima em cárcere privado, mas aguarda julgamento em liberdade.
Em conversa com o G1 na Terça-feira, a defesa de Ana Vindoura negou o cárcere e a classificação da vítima, pela líder espiritual, como "endemoniada". Segundo o advogado Rolland Carvalho, a polícia "exagerou" ao analisar as provas obtidas.
Apesar de não saber os motivos para ser mantida trancada na casa, Renata afirma que não recebia punições durante esse período. As obrigações eram duas: "ler a bíblia e fazer as tarefas da casa".
Para polícia, a vítima não conseguiu entender a própria situação no local.
"Ela acreditava que eu estava com o demônio [no corpo].
Tinha medo que eu fugisse"
Lembra Renata.
Pedido de socorro
O pedido de ajuda veio da própria vítima. No fim de Dezembro, a estudante aproveitou o momento em que a líder religiosa dormia para pegar o celular dela e mandar mensagem para um amigo.
Do outro lado estava um morador de Goiás, que viveu por cinco anos na comunidade e deixou a seita "por não concordar com o que via ali".
Nas mensagens, Renata pede para o amigo "chamar a polícia" e diz que não pode detalhar o caso porque está usando o celular escondida.
O texto foi enviado na noite do dia 26 de Dezembro.
"Oi, preciso da sua ajuda.
Tenho que sair daqui mas estou presa"
Escreve Renata.
"Chama a polícia faz qualquer coisa mas me ajuda por favor. Não posso detalhar melhor porque estou falando com o senhor escondido e ninguém pode saber".
Em seguida, a jovem pede para o rapaz não responder as mensagens "porque o celular é da irmã Ana".
"Peguei rapidinho porque estou desesperada para ir embora".
Ex-membro
A pessoa que recebeu o pedido de socorro também aceitou conversar com o G1, sob condição de anonimato. Ao ler as mensagens, ele diz ter procurado a polícia imediatamente.
Os dois se conheceram quando o homem ainda frequentava a comunidade, há cinco anos. Agora, ele diz que quer ajudar outras pessoas a "ficarem livres daquilo tudo".
Questionado, ele classifica a seita como a "pior prisão, causadora de transtornos psicológicos".
O ex-membro afirmou ao G1 que os fieis que moram na chácara do Gama são proibidos de consumir alimentos que não sejam plantados na propriedade. Também não podem tomar medicamentos, "apenas os naturais".
Sobre a influência de Ana Vindoura na comunidade, ele diz que "até acredita na sinceridade dela", mas não concorda com o jeito que faz.
"Não era de acordo com a palavra de Deus."
Nova vida
Afastada da comunidade, Renata diz que vai fazer acompanhamento psicológico por "se sentir confusa, sem saber o que pensar".
Ela quer voltar a estudar, terminar o ensino médio e fazer uma faculdade.
"Meu sonho é fazer direito ou medicina.
Antes de passar por tudo isso, eu já tinha isso [opções de cursos] na cabeça"
Afirma.
"Quero fazer pelo conhecimento".
Já sobre a religião que praticava desde os 12 anos, a jovem afirma que "continua acreditando em Deus", mas não quer voltar para comunidade liderada por Ana Vindoura.
Com Informações de: G1.
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