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03 julho 2016

SÃO ROQUE DE MINAS-MG - Pela 1ª vez, Serra da Canastra recebe visita de casal de cegos com cão-guia

Namorados foram à região em busca de contato com a natureza.
Veja relatos do guia e do casal sobre a viagem.



              O Parque Nacional da Serra da Canastra em São Roque de Minas-MG permitiu pela primeira vez a entrada de um cão no local, no último fim de semana. 

              O labrador Porsche é o cão-guia do casal de cegos Marcelo Monteiro, de 37 anos, e Luzia Mascarenhas, de 34 anos. Os dois saíram de Salvador-BA para visitar a região em busca de contato com a natureza.

              O chefe substituto do parque, Vicente Faria, destacou que a entrada de animais no local é expressamente proibida justamente para que não haja danos à flora e fauna nativas da região. 
              Entretanto, a visita de Porsche, cuja finalidade era guiar o casal, foi uma exceção.

              A presença do cão que permitiu um passeio regado a aventuras e emoção, como contou o guia turístico Elmo Brancatto

“A entrada foi inédita, pois há regras rigorosas. Achei que não conseguiríamos, mas foi tranquilo e ficamos felizes em ter conseguido entrar e eu ainda mais feliz por ter tido essa experiência única. 
Tive a oportunidade de ver muito amor verdadeiro entre um casal e tanta força de vontade em superar limites físicos"
              Destacou.

              Elmo, que nunca havia feito uma trilha ou guiado cegos, não se conteve em dizer que tudo que viveu em dois dias com o casal foi um presente.

“Inicialmente fiquei me perguntando como guiaria um casal que não enxerga por um passeio que é tão visual. 
Fiquei sem reação e realmente foi um presente esses momentos com eles, ver a felicidade e prazer em realizar coisas simples”
              Contou.

              Elmo se refere a entrar em um rio no inverno, tocar a estátua de São Francisco e muito mais. O valor de tudo isso ficou marcado para Marcelo e Luzia, que descrevem cada oportunidade como dádivas.

“O nosso desejo em visitar a Serra da Canastra ocorreu por dois motivos. Primeiro porque queríamos conhecer as cachoeiras e trilha, ter contato com a natureza pois a energia que a natureza transmite não tem preço. Segundo, porque Luzia adora banhos de rio e fazê-la feliz é minha responsabilidade”
              Contou Marcelo.

              Diante do valor dado pelo casal às sensações e percepções que vão além do que contemplam os olhos, o guia se sente orgulhoso. 
              Para ele, foi uma lição de vida.

“Eles nunca se viram e ambos têm um carinho impressionante um pelo outro. Um dos momentos mais gratificantes foi quando entrei com eles dentro do rio com o carro. 

Eles ouviram o barulho da água movimentando e foi maravilhoso ver o quanto eles ficaram felizes com isso. 

Outro momento foi quando, já do lado de fora do carro e com os pés na água, o Marcelo perguntou qual era a cor da água naquele local e eu disse que era transparente, tão transparente que dava para ver os pés”
              Contou.


O casal
              Marcelo e Luzia estão juntos há apenas três meses. 
              Os dois têm deficiência visual desde a infância e se conheceram por meio de um grupo de amigos em uma biblioteca de Salvador. 

              Apaixonados por viagens, a falta de visão nunca foi empecilho para os dois. 

“O contato com a natureza, com as pessoas, comida local, conversar com gente diferente, isso tudo é muito bom. 
Por isso valorizamos sempre nossos passeios”
              Disse.

              Eles nunca viajam sem o cão-guia que está com Marcelo há seis anos. 

“Os olhos do Porsche são nossos olhos. 
Ele tem grande responsabilidade na felicidade que temos em todos os passeios. 
Ele atravessa rua, desvia de todos os obstáculos”
              Explicou.

              Porsche foi treinado pela Associação Brasiliense de Ações Humanitárias
              Marcelo teve que se inscrever em uma seletiva. 
              Ele passou por uma seleção rigorosa para conseguir ficar com o cão.

“Minha vida mudou depois do Porsche. 
É tão íntima a relação que muitas vezes saio na rua e preciso ir a uma banca de frutas por exemplo, e ele vai sozinho, sem eu ter que dar comando. É impressionante. 
Claro que para isso precisei também fazer um treinamento com ele. É muito gratificante. Nos hotéis, somos acompanhados pela primeira vez por alguém do hotel até o quarto. 
Na segunda vez não precisa mais, basta entrarmos no elevador e ele leva a gente até o quarto”
              Finalizou.


              Com Informações de: G1.

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